domingo, 12 de maio de 2013

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ONG de pastor preso tem verba federal

IVR de Marcos Pereira recebeu R$ 1,9 mi em 7 anos e mantém convênio de R$ 1,4 mi

11 de maio de 2013 | 18h 39
Marcelo Gomes / RIO
O Instituto Vida Renovada (IVR), associação civil ligada à Assembleia de Deus dos Últimos Dias (ADUD), recebeu R$ 1,9 milhão de verbas federais desde 2006 e ainda tem R$ 1,4 milhão a receber, em convênios para programas de prevenção e recuperação de dependentes de drogas, além de assistência jurídica, psicológica e social a presos, ex-detentos e outras minorias.
Pastor Marcos Pereira preso acusado por estupros, tráfico e homicídios - Divulgação
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Pastor Marcos Pereira preso acusado por estupros, tráfico e homicídios
Com sede em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, a ADUD é presidida pelo pastor evangélico Marcos Pereira da Silva, de 56 anos, preso na terça-feira acusado de estuprar duas fiéis de sua igreja. Ele também é investigado em outro inquérito por associação para o tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e quatro homicídios.
De acordo com levantamento no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), feito pela ONG Contas Abertas a pedido do Estado, o governo federal já empenhou (reservou para pagamento posterior) R$ 1,4 milhão para o IVR, em dois convênios celebrados em 2011 e 2012.
No primeiro contrato, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República empenhou R$ 400 mil para implementação do "Centro de Referência em Direitos Humanos no Instituto Vida Renovada". O objetivo é "garantir a orientação geral sobre direitos humanos a qualquer vítima de violação de direitos" e prestar "atenção jurídica, psicológica e social a detentos, egressos do sistema prisional, seus familiares, comunidades e população em geral, bem como a pessoas com deficiência, idosos, quilombolas, indígenas, assentados, afrodescendentes, população GLTB e ciganos".
Já o segundo convênio, assinado com o Fundo Nacional Antidrogas, no valor de R$ 1 milhão, prevê a "realização de seminários para formação de 2.880 multiplicadores sociais para atuarem em ações de prevenção do uso e abuso de drogas lícitas e ilícitas (álcool, maconha, cocaína, crack, etc) junto ao seu grupo social".
O Instituto também recebeu R$ 216 mil da Prefeitura de São João de Meriti em 2012, para "execução e manutenção do centro de atendimento ao público egresso do sistema prisional, dependentes químicos e moradores de rua". A ONG não recebeu verba do governo do Estado, segundo o Sistema Integrado de Administração Financeira para Estados e Municípios.
Atendimentos. O site do IVR diz que em 2011 foram realizados mais de 4 mil atendimentos nas áreas social, jurídica e psicológica. Afirma ainda que seu abrigo em São João de Meriti atende 80 homens e 40 mulheres oriundos da marginalidade, das penitenciárias e da dependência química.
O pastor Marcos Pereira ganhou notoriedade por negociar o término de rebeliões em presídios e resgatar reféns que supostamente seriam executados por traficantes. Ele começou a ser investigado pela Delegacia de Combate às Drogas (DCOD) em fevereiro do ano passado, após o coordenador da ONG AfroReggae, José Júnior, acusá-lo publicamente de ligação com o Comando Vermelho e de ter ordenado os ataques contra ônibus e bases policiais em 2006 e 2010.
O AfroReggae também é conhecido pelo trabalho de ressocialização de ex-detentos e de mediação de conflitos em favelas dominadas pelo tráfico. A ONG recebeu, nos últimos seis anos, R$ 483 mil em verbas federais e R$ 7,7 milhões do governo do Estado, segundo levantamento feito no Siafem pelo gabinete do deputado estadual Luiz Paulo (PSDB-RJ), a pedido do Estado.
Júnior e Marcos Pereira se conheceram - e se tornaram amigos - após uma rebelião numa casa de custódia na zona norte do Rio em 2004, na qual o pastor atuou como mediador a convite do então secretário de Segurança, Anthony Garotinho. Em depoimento à DCOD, o líder do AfroReggae disse que tinha admiração pelo trabalho da ADUD e que chegou a obter doações para a igreja. Tudo mudou quando um ex-membro da ADUD, que ingressou no AfroReggae em 2009, lhe revelou os crimes em que Marcos Pereira estaria envolvido. A partir daí, Júnior disse que o pastor começou a espalhar pelas favelas que ele era "X-9" (alcaguete) da polícia, com o objetivo de colocar sua vida em risco.
Ouvido no inquérito, Marcos Pereira negou todas as acusações. Disse que Júnior estava com "ciúmes", por ele ser bastante querido nas comunidades carentes e nos presídios do Rio.
PARA ENTENDER
A Delegacia de Combate às Drogas investiga o patrimônio de Marcos Pereira e da igreja. O objetivo é saber se o religioso utiliza a ADUD para lavar dinheiro do tráfico. Além do apartamento de R$ 8 milhões na Avenida Atlântica, em Copacabana, a polícia já sabe que estão em nome da igreja os prédios onde ficam sua sede, em São João de Meriti, e suas quatro filiais (em Meriti, na vizinha Duque de Caxias, no Paraná e no Maranhão).

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