É hora de desconstruir um pouco esse texto de Joel para a Folha.
Ele começa:
A própria realidade se encarregou de ilustrar, muito melhor do que a ficção, a equivalência quase perfeita entre as patrulhas ideológicas de esquerda e de direita que estão corroendo a liberdade de expressão no Brasil.
De um lado, jovens progressistas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco)
tentam impedir que o filme sobre Olavo de Carvalho ("O Jardim das Aflições") seja exibido na universidade. Do outro, conservadores fazem abaixo-assinado contra a vinda da acadêmica "queer"
Judith Butler para falar no seminário "Os Fins da Democracia" em São Paulo.
Eu não concordo com o abaixo-assinado contra a vinda de Judith Butler, mas não por questões morais e sim por questões táticas. Acho que isso é dar publicidade excessiva à Judith. Já o ato de boicotar o que quer que seja, desde que não seja por meio de violência, é uma ação plenamente alinhada com os princípios liberais.
Qualquer tipo de boicote pacífico - como este feito contra Judith Butler - não pode ser classificado de forma alguma à censura.
Porém, agredir pessoas que vão assistir a um filme vai além da censura tradicional. É o fascismo da pior espécie.
Ao comparar o boicote contra Judith Butler com o ato fascista dos agressores de extrema esquerda da UFPE, Joel Pinheiro apela ao pior tipo de relativismo moral.
Ele segue, lá na frente, com mais absurdos:
O perfil humano do militante intransigente sempre existiu e sempre existirá, a diferença é que em algumas épocas, como a nossa, ele goza de aprovação social. Universidades negam sua própria finalidade de promover o pensamento crítico e cedem às demandas dos ofendidos da vez; empresas se desdobram em pedidos de desculpas por crimes imaginários; a mídia leva a sério o conteúdo de sua ideologia. Louvamos sua coragem na defesa de ideais.
Com efeito, ao agir, ele imagina estar dando o melhor de si. Na guerra imaginária da qual participa (fazendo abaixo-assinado, fechando porta de cinema, brigando etc.), exprime seus valores mais altos, seus princípios inegociáveis. Infelizmente, a realidade para quem vê de fora é outra: a boa intenção torna-o uma pessoa pior.
O risco que o Brasil corre não é nem o da teocracia puritana e nem o do comunismo que abolirá a família. É o de relações pessoais degeneradas pela divergência ideológica, de uma política do berro, que se restringe ao plano simbólico. É o risco, por fim, de um país que perde a alegria da convivência e o ideal da união em nome de uma guerra cultural ilusória a serviço de agitadores inescrupulosos.
Hm, isto não está cheirando bem. Falaremos disso lá no final.
Antes, veja como ele conclui o texto:
Somos maiores do que isso. Conforme descobrimos no
vídeo veiculado pela Folha no fim de semana, Silvio Santos, Zé Celso e João Doria foram capazes de se sentar numa mesa para negociar suas diferenças. O resultado é uma chanchada digna do cinema. E é também um motivo para ter esperança. Longe das polêmicas sensacionalistas, a conciliação ainda impera no âmbito pessoal. O Brasil ainda vive.
O curioso é que ele omitiu a realidade. Nas redes sociais, a extrema esquerda fez campanha de ódio contra Silvio Santos, pois este venceu Zé Celso na argumentação. Aliás, a extrema esquerda vive tentando censurar o SBT. Quem não se lembra da tentativa de se retirar verbas estatais da emissora depois que Rachel Sheherazade sugeriu para que o ultra esquerdistas "adotassem um bandido"?
Foi para esse perfil de direita representada por Joel Pinheiro que eu criei o termo "direita ofeliana".
É um termo inspirado no filme "O Labirinto do Fauno", cuja personagem principal, Ofelia, cria uma realidade alternativa (onde ela é uma princesa e tem acesso a um mundo de criaturas fantásticas) para ignorar o mundo real, onde ela é oprimida por um padastro que agride tanto ela como sua mãe.
O problema é que fugir da realidade não resolve os problemas. Apenas gera alívios falsos e momentâneos.
Joel critica o "excesso de polarização" e chega a tratar isso como um problema do Brasil atual. Porém, nos EUA pessoas de direita apanham às dezenas. E os agressores possuem um perfil pró-Hillary em estilo Joel. Como se vê, o tal discurso de "excesso de polarização" é sempre uma furada.
No fundo, o que acontece é que a esquerda sempre bateu sozinha. Deviam se divertir muito nesse período em que a direita vivia na espiral do silêncio. A partir do momento em que a direita começou a reagir, a esquerda grita "ai, agora polarizou". Sim, aí é fácil para o bully que viveu sua vida batendo sozinho, não é mesmo?
Ademais, estou sendo até paternalista com Joel. Estou tratando-o como iludido. Quem sabe ele também não é um oportunista construindo um discurso para poder com mais facilidade se adaptar a um projeto de falso centrismo em 2018 em estilo Luciano Huck com base de gente do PSOL e da Rede? É uma hipótese.
Fica mais fácil entrar nesse tipo de projeto - estilo Rede - fazendo um discurso "nem, nem" (nem de direita e nem de esquerda) quando na verdade a política econômica e cultural caminha entre o esquerdismo e o ultra esquerdismo.
Nesse caso, Joel estaria apenas fazendo um jogo bem arquitetado.
Vale a pena ler sobre esse tipo de perfil no livro "Sobre o Político", de Chantal Mouffe, que dava condições de prever todos os movimentos de placas políticas tectônicas ocorrendo na Europa atual.
E se a turma estilo Hillary/Huck chegar ao poder com base em PSOL/Rede (fingindo serem "o centro"), eles não vão se furtar em manter poder com base na violência, assim como as tropas de Hillary fazem nos Estados Unidos, batendo em pessoas nas universidades.
No fundo, o discurso daquele que "escapou da polarização" é em grande parte um disfarce para poder barbarizar oponentes políticos. Nisto, a direita bolsonarista e a extrema esquerda de Lula são pelo menos mais honestas.
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