Chegamos ao 7 de setembro. Logo, um feriado. E até agora Joesley Batista está solto, mesmo depois do Brasil descobrir - estarrecido - que a delação que gerou o acordo de impunidade é toda forrada por irregularidades.
Joesley Batista e Ricardo Saud já deveriam ter sido presos por obstrução de Justiça. O acordo de impunidade deveria ter sido cancelado. Pra ontem. As empresas dos irmãos JBS já deveriam ter sido bloqueadas.
O áudio deixa claro que o homem de confiança de Janot, Marcelo Miller, atuou ao mesmo tempo como procurador e advogado da JBS. Quase todo o Brasil já sentia o cheiro de merda ao descobrir que Miller largou o cargo repentinamente para se tornar sócio do escritório de advocacia responsável pela defesa dos delatores.
Há grandes chances de que essa atuação de Miller cancele não apenas o acordo de impunidade, como também as provas coletadas, uma vez que elas estão contaminadas pela armação e pelo seletivismo. Talvez seja possível encontrar algumas crianças de menos de 10 anos que acreditem que Janot não suspeitava dessa treta.
A luta de Janot agora é convencer o povo de ter sido feito de trouxa. Explica-se: ele não quer ser percebido como organizador dessa armação. Ele sabe que os próximos dias tendem a ser terríveis para o PGR, que já pode até pensar na hipótese de parar na cadeia.
Entre os subordinados a Janot, o clima é deprimente, pelo que contam algumas fontes importantes. A imagem de Janot virou pó.
Para tentar se livrar da sujeira, Janot disse, na segunda (4), que o áudio trazia denúncias sobre o STF. Mas quando ouvimos a gravação, na terça (5), não havia nenhuma denúncia contra os ministros da Suprema Corte. Quer dizer: Janot se queimou até com o STF.
Outra pergunta: por que Janot inventou que o áudio iria enrolar o STF quando isso não acontecia? Claro está que é tentativa de lançar o caos em outra direção. Mas o caos agora caiu em sua cabeça.
O mínimo que poderíamos esperar é uma renúncia de Janot. Só que ele continua encastelado no cargo, mesmo que agora já não há mais como ele se safar.
A análise dos áudios mostra clara promiscuidade de Joesley e Saud com o PGR.
A afirmação "põe pressão, mas não mexe com eles", feita por Joesley, é outro complicômetro para Janot. Isso significa que é uma delação "a la carte", que é aceita se tiver os alvos selecionados pelo PGR.
Em suma: em misto de desrespeito às instituições e prepotência, Janot complicou o instituto da delação premiada para atingir Temer.
Como se isso não bastasse, ele apareceu no apagar das luzes - pois ele vai sair no próximo dia 17 - com uma denúncia "arrasa quarteirão" contra Lula, Dilma, Gleisi e outros petistas, no caso do "quadrilhão" envolvendo o PT e a Odebrecht.
Mas essa denúncia já tem grandes chances de ser considerada inepta, tendo sido feita de encomenda não para punir, mas para livrar os petistas.
Ou seja, ele pode dar outro golpe - talvez fatal - no instituto da delação premiada.
O conjunto da obra de Janot mostra que ele é hoje o maior inimigo da Lava Jato. Se a operação desmoronar, a culpa terá sido principalmente dele.
Num país mais sério, Janot já teria renunciado e estaria torcendo para não ser preso.
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