23 de Setembro de 2016
Contra o tambor
Por Mario Sabino
De todas as mudanças que o governo quer fazer no ensino médio, a que mais me entusiasma é o fim do ensino obrigatório de “Artes” ou “Educação Artística”.
Não que eu seja contra a Arte, muito pelo contrário. Acho a pintura, por exemplo, o ápice das realizações humanas. A boa pintura, fique claro, não esses horrores produzidos por Romero Britto e congêneres.
Eis um dos pontos, aliás: ao substituir “Artes” por disciplinas úteis, a probabilidade de surgir outro Romero Britto diminui – e pode aumentar, vamos ser otimistas, a chance de termos um cientista que faça alguma diferença para o país.
Deverá diminuir, ainda, o número de adolescentes ritmistas, visto que, na falta de museus, orquestras e livros, aos professores de “Artes” resta o tambor.
Eu não gosto de tambor, acho batucada um pesadelo e desconfio de que acelera a queima de neurônios. Fico penalizado quando as emissoras de televisão mostram crianças e jovens tocando tambor, como se isso fosse salvar o seu futuro. Na verdade, fico indignado.
Provavelmente alguém dirá que é melhor tocar tambor do que sair por aí assaltando ou matando. Bem, lobotomia maciça também impediria milhares de adolescentes de cometer crimes, mas eu jamais defenderia uma saída como essa. Tambor, para mim, é lobotomia sonora.
A Folha de S. Paulo ouviu uma professora da Unesp contrariada com o fim da obrigatoriedade de “Artes”. Kathya Godoy afirmou o seguinte: "O ensino de arte permite um olhar expandido para as coisas. Com a mudança, tira a possibilidade de sensação, os alunos vão se tornar anestesiados." O jornal informa que Kathya Godoy é “doutora em Educação Artística e graduada em Educação Física”. Assim como a Educação Artística, a Educação Física deve deixar de ser obrigatória. Sou a favor.
Com as mudanças, os alunos do ensino médio talvez entendam, finalmente, que o melhor lugar para agás e ípsilons é nas equações matemáticas e fórmulas científicas.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário