Dilma intervém para arquivar processos contra Pimentel
Ministro era investigado por negócios de consultoria e fretamento de jatinho para viagem à Europa
22 de outubro de 2012 | 20h 02
Rafael Moraes Moura, de O Estado de S. Paulo
Após intervenção da presidente Dilma Rousseff, a Comissão de Ética Pública da Presidência da República decidiu nesta segunda-feira, 22, arquivar os dois processos em tramitação que tinham como alvo o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. O ministro é um dos interlocutores mais próximos de Dilma.
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Beto Barata/AE - 04.10.2012
Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior teve processo arquivado
A comissão analisou dois casos: os negócios da empresa de consultoria de Pimentel, antes de ele assumir o cargo de ministro; e o fretamento de jatinho para viagem na Europa, quando ele já despachava na Esplanada dos Ministérios.
Em junho passado, o então conselheiro Fábio Coutinho havia defendido a aplicação de uma advertência a Pimentel por conta dos negócios de consultoria, voto acompanhado de Marília Muricy. Os dois conselheiros não foram depois reconduzidos ao cargo pela presidente Dilma Rousseff, o que levou ao pedido de renúncia do então presidente da comissão, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence.
Com a nova composição, formada atualmente por quatro conselheiros, a Comissão de Ética arquivou os processos em tempo recorde - a discussão dos negócios de consultoria se arrastava no órgão desde fevereiro.
"A questão do uso do avião, não tem problema nenhum, ele não tinha outra opção, ou ele ia ou não ia e faltava ao compromisso. Tem uma resolução da Comissão de Ética dizendo que as autoridades poderão em certos casos usar os aviões dos patrocinadores dos eventos, desde que não tenham interesse sob julgamento dessa autoridade, e no caso não tinha", afirmou o conselheiro Américo Lacombe, que assumiu interinamente a presidência da Comissão de Ética.
No voto, Lacombe considera o Lide - Grupo de Líderes Empresarias uma "instituição cultural", "voltada à difusão e fortalecimento dos princípios éticos de governança corporativa e à promoção e incentivo de relações empresarias".
Questionado sobre o andamento dos trabalhos, o presidente interino negou que a presidente Dilma Rousseff esteja intervindo na atuação da comissão. "Isso não existe, ninguém me pediu nada, não tem essa, não. A renovação é faculdade da presidente, pode renovar ou não, eu pretendo não ser reconduzido, já antecipo pra vocês", disse Lacombe.
Consultoria. A oposição via semelhanças entre a situação de Pimentel e a do ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci, que saiu do governo devido à denúncia de ter o patrimônio ampliado em 20 vezes após a prestação de serviços de consultoria. Pimentel tornou-se alvo de denúncias de que sua empresa, a P-21 Consultoria e Projetos, teria faturado mais de R$ 2 milhões com consultorias entre 2009 e 2010. Havia suspeitas de conflito de interesses.
De acordo com o conselheiro Mauro de Azevedo Menezes, novo relator do processo de consultoria, Pimentel "providenciou a anexação de farta documentação comprobatória do recolhimento de tributos devidos pela referida empresa de consultoria, bem como da sua regularidade fiscal, demonstrada por meio de certidões".
Sobre um contrato de R$ 1 milhão firmado entre a P-21 e a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), o relator diz que foram apresentados documentos que atestam que os serviços de consultoria foram efetivamente prestados.
"Dadas as características do vínculo temporário e finito que se estabeleceu e se encerrou entre a empresa gerida pelo denunciado e a Fiemg, (...) não haveria (...) razão alguma para a exigência (...) de inclusão dessa informação em sua Declaração Confidencial de Informações", sustenta Menezes. "A atuação prévia no setor em que o ministro de Estado irá posteriormente atuar, longe de ser uma inconveniência administrativa, pode facilitar a compreensão dos meandros da atividade ministerial, guardados, evidentemente, os devidos cuidados com a isenção na futura tomada de decisões."
Para Lacombe, Pimentel era um "economista no exercício da sua profissão, nem era mais prefeito". "A quantia que recebeu foi pequena, não é nada assim extraordinário, não multiplicou seu patrimônio por 20", afirmou, em referência ao escândalo que derrubou Palocci.
O ESTADO DE SÃO PAULO
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