por Felipe Moura Brasil
Joesley Batista contou em entrevista à Época como comprou o silêncio de Lúcio Funaro e Eduardo Cunha, que reagiu, em texto escrito na cadeia, acusando Joesley de omitir que se encontrou com Lula e o próprio ex-presidente da Câmara durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff.
Dá gosto de ver a riqueza de detalhes de ambos os relatos:
JOESLEY: “O Eduardo me pediu R$ 5 milhões. Disse que eu devia a ele. Não devia, mas como ia brigar com ele? Dez dias depois ele foi preso. Eu tinha perguntado para ele: ‘Se você for preso, quem é a pessoa que posso considerar seu mensageiro?’. Ele disse: ‘O Altair procura vocês. Qualquer outra pessoa não atenda’. Passou um mês, veio o Altair. Meu deus, como vou dar esse dinheiro para o cara que está preso? Aí o Altair disse que a família do Eduardo precisava e que ele estaria solto logo, logo. E que o dinheiro duraria até março deste ano. Fui pagando, em dinheiro vivo, ao longo de 2016. E eu sabia que, quando ele não saísse da cadeia, ia mandar recados.”
CUNHA: “Ele [Joesley] fala que só encontrou o ex-presidente Lula por duas vezes, em 2006 e 2013. Mentira. Ele apenas se esqueceu que promoveu (sic) um encontro que durou horas, no dia 26 de março de 2016, Sábado de Aleluia, na sua residência na rua França, 553, em São Paulo, entre eu, ele e Lula, a pedido do Lula, a fim de discutir o processo de impeachment, ocorrido em 17 de abril, onde pude constatar a relação entre eles e os constantes encontros que eles mantinham.”
Joesley não negou a reunião: explicou que “destacou dois encontros” com Lula, mas “esteve em outras ocasiões com o ex-presidente”.
Uma pena não ter gravado pelo menos esta.
Na data citada por Cunha, Dilma tentava segurar em seu governo o PMDB.
No dia seguinte, Lula se encontrou em São Paulo com o então vice Michel Temer, também presidente nacional do PMDB na ocasião.
Temer disse a Lula que o rompimento com o governo Dilma era inevitável.
A tentativa de acordão de Lula não deu certo. O comandante máximo perdera força de articulação e acesso ao foro privilegiado no dia 18 de março, quando Gilmar Mendes suspendeu sua nomeação como ministro, ocorrida no dia 16, o mesmo em que o juiz Sérgio Moro divulgou a conversa entre Lula e Dilma sobre o envio e o uso do termo de posse “em caso de necessidade”.
A delação de Joesley, no entanto – que ainda coloca Temer como avalista da compra de silêncio de Cunha –, levou o atual presidente e principal alvo de denúncias e gravação do empresário a embarcar junto com Aécio Neves no mesmo navio de guerra de Lula contra a Lava Jato, não sem a ajuda conjunta dos ministros timoneiros do TSE e do STF ligados aos três.
Como comentamos em Reunião de Pauta, Temer (com Joesley) e Lula (com Léo Pinheiro e Renato Duque) deixaram os operadores de lado na hora do aperto e apareceram em episódios de aparente obstrução de Justiça; bem como deixaram indícios de uso de dinheiro sujo em reformas de imóveis familiares.
Guardadas as devidas proporções dos crimes supostamente cometidos e as acusações do presidente de que Joesley protege o PT, hoje Temer e Lula estão juntinhos – até que um bandido os separe.
felipemb@oantagonista.com
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