por Felipe Moura Brasil
Trechos recuperados pela perícia da Polícia Federal na gravação do dono da JBS, Joesley Batista, com Michel Temer reforçaram as acusações iniciais da Procuradoria-Geral da República contra o presidente.
Num deles, Temer indica a Joesley o ex-deputado atualmente preso Rodrigo Rocha Loures para ser o intermediário de ambos, descreve Loures como homem de sua “mais estrita confiança”, e diz:
"Pode passar por meio dele, viu?"
Fica complicado dar essa autorização e depois o cara aparecer correndo pelas ruas de São Paulo com uma mala de R$ 500 mil de propina recebida da própria JBS.
Disso, o presidente não fala!
No mesmo dia da denúncia de Rodrigo Janot contra Temer, aliás, Sérgio Moro condenou Antônio Palocci a mais de 12 anos de prisão, citando vários depoimentos de delatores que implicam Lula.
Num deles, Pedro Novis, o antecessor de Marcelo Odebrecht na presidência da empreiteira, disse que Lula lhe indicou Palocci para ser o intermediário de ambos para financiamentos de campanha.
Marcelo Odebrecht, vale lembrar, disse que herdou de Novis essa interlocução com Lula via Palocci.
Fica complicado para Lula, de modo análogo ao de Temer, dar essa autorização e depois o cara passar anos negociando propinas para agentes do PT em troca de contratos públicos.
Guardadas as devidas proporções, porque o estrago petista é sempre maior, Janot colocou Temer na posição de mandante da mesma forma como Lula aparece na sentença de Moro contra Palocci, na qual é citado 68 vezes.
Outro trecho recuperado do áudio de Joesley reforça a suspeita inicial de que Temer avalizou, sim, a compra de silêncio de Eduardo Cunha por parte do empresário.
Essa suspeita havia ficado ofuscada porque a primeira matéria da imprensa sobre o conteúdo da conversa até então não divulgada dava a entender que Temer havia dito a hoje célebre frase “Tem que manter isso, viu?” depois de uma indicação clara de Joesley sobre o suborno.
Mas ela vinha após Joesley dizer que estava “de bem com o Eduardo”, o que favoreceu a narrativa do governo de que Janot forçava a mão contra o presidente.
Agora sabemos que, depois de Joesley dizer “todo mês...”, o que ele alega ser referente aos pagamentos mensais a Lúcio Funaro e Eduardo Cunha em troca de silêncio, Temer questionou em tom de confirmação:
“O Eduardo também, né?”
E o empresário confirmou: “Também...”
Fica complicado, também neste caso, fingir que o pedido de confirmação sobre um ato mensal relativo a um potencial delator preso foi algo tão corriqueiro como quem pergunta se fulano vai também ao happy hour da firma, não é mesmo?
Para completar, a natureza secreta da conversa também fica clara em outro trecho recuperado do áudio no qual o presidente recomenda a Joesley que sempre entre pela garagem do Palácio do Juburu.
“Sempre pela garagem, viu?”
Joesley então se refere ao horário do encontro, dizendo “onze hora da noite, meia-noite, dez e meia, vem aqui”; e Temer ainda diz:
“Não tem imprensa.”
Fica complicado, também, transparecer como normal um encontro secreto, providencialmente longe de jornalistas, com um “bandido notório”, como o próprio Temer hoje chama Joesley.
Em seu discurso-resposta nesta terça-feira à denúncia de Janot, o presidente chamou tudo de ilação, que é fazer uma dedução à base de suposições, não diante de provas concretas.
Se a denúncia de Janot é, de fato, suficiente para Temer, a despeito das flagrantes imoralidades, ser afastado do cargo e até condenado por crimes comuns, caberá a Justiça dizer, mas o presidente tenta ser salvo pela dúvida e/ou pela fidelidade dos parlamentares que podem barrar a denúncia no Congresso.
Na Comissão de Constituição e Justiça, por exemplo, a tropa de choque do governo já tratou de substituir o deputado Major Olímpio, que vinha fazendo oposição a Temer, pelo governista Áureo Ribeiro, a fim de garantir mais um voto.
Na área política, vale tudo para o presidente não perder o cargo.
Tem que manter o foro privilegiado, viu?
felipemb@oantagonista.com
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário