Inflação já estourou meta em 4 das 11 regiões apuradas pelo IBGE
IPCA acumulado até fevereiro ultrapassa os 6,5% em Recife, Fortaleza, Salvador e Belém
09 de abril de 2013 | 17h 10
Daniela Amorim e Fernanda Nunes, da Agência Estado
O teto da meta inflacionária já estourou em quatro das 11 regiões pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o cálculo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em fevereiro, a taxa acumulada em 12 meses em cada uma destas regiões, todas no Norte e Nordeste, já rodava com aumentos de preços em nível bem acima do teto de 6,5% estipulado pelo governo.
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As expectativas para o IPCA de março, que será divulgado nesta quarta-feira, 10, pelo instituto apontam para a ultrapassagem nacional da meta. Regionalmente, a inflação acumulada até fevereiro já está neste patamar em Recife (7,44%), Fortaleza (8,31%), Salvador (7,05%) e Belém (8,75%). A causa principal é o encarecimento da mandioca.
Na verdade, os preços ultrapassaram a meta do governo nessas regiões metropolitanas do Norte e Nordeste há alguns meses. O teto foi superado em Belém ainda em outubro de 2012, quando a inflação atingiu 7,06%. No Recife, a inflação acumulada em 12 meses roda acima do limite também desde outubro, quando chegou a 6,87%. Em Fortaleza, a inflação superou os 6,5% em dezembro de 2012, ao atingir 6,70%, enquanto, em Salvador, a meta foi estourada em janeiro, quando a taxa ficou em 6,74%.
Com a antecipação da disputa eleitoral à Presidência da República, a inflação nessas cidades é motivo de preocupação econômica e também política. A entrada do governador pernambucano Eduardo Campos no jogo eleitoral de 2014 e a disparada de preços na região metropolitana do Recife, elevam a importância da região na campanha eleitoral.
A contenção dos preços dos alimentos deverá ser o foco de atuação da equipe econômica, já que os alimentos são os vilões da inflação nessas regiões. Também são os alimentos a principal fonte de alta de preços em todo o País. O IPCA nacional, até fevereiro, acumula alta de 6,31%.
"A alta de preços dos alimentos in natura ocorreu nacionalmente. Mas os alimentos têm maior peso no cálculo da inflação em cidades com menos renda, como as da região Nordeste", destacou o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) André Braz. Se em São Paulo as despesas com alimentação e bebidas respondem por 22,9% da inflação, em Fortaleza, essa fatia sobe para 31,7%.
A explicação do economista é que algumas cidades das regiões Norte e Nordeste reduziram a área plantada de hortaliças e legumes. Por causa também de problemas climáticos, a colheita de alguns produtos foi reduzida, o que causou elevação dos preços dos in natura.
Rafael Coutinho Costa Lima, da Faculdade de Economia da USP e coordenador da Fipe, acrescenta que, nessas regiões, a melhora do rendimento mensal tem mais efeito sobre a inflação de alimentos, já que nesses locais a população tende a gastar mais com as compras de supermercados do que em regiões metropolitanas como São Paulo e Rio de Janeiro, onde o IPCA em 12 meses não atingiu o teto da meta até fevereiro (foi de 5,54% e 6,19%, respectivamente).
A elevação das despesas com itens importantes para o orçamento das famílias, especialmente de consumidores das regiões Norte e Nordeste, explicam o resultado. Apenas a farinha de mandioca, com grande participação na alimentação em regiões como Belém e Fortaleza, ficou 16,15% mais cara em fevereiro, após já ter subido 10,73% em janeiro. Em 12 meses, a farinha de mandioca está custando 141,33% mais.
"No Norte e no Nordeste, a base da alimentação é farinha de mandioca", confirmou Mauro Andreazzi, gerente da Coordenação de Agropecuária do IBGE.
E não há previsão de trégua nos aumentos de preços. O Levantamento Sistemático da Produção Agrícola de março estima que a safra de mandioca em 2013 será 4,2% menor do que o previsto no mês anterior. Segundo o IBGE, o ciclo de cultivo da mandioca é longo, com duração de 12 a 18 meses, o que prejudica uma retomada mais veloz da produção em quantidade suficiente para atender a demanda.
"A seca impediu o plantio, plantou-se pouco em 2012. Como a mandioca tem ciclo longo, se ela não foi plantada no ano passado, não vai ser colhida este ano", alertou Andreazzi. "Agora está faltando até a maniva, o galho da mandioca usado para plantar", acrescentou.
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