No Brasil, o debate político vem ganhando ares de torcida futebolística, ambiente no qual o bom senso e a razoabilidade deram lugar a uma inflamada guerra de acusações pautada não pelos fatos, mas sim em alinhamentos ou simpatias político-eleitoreiras.
Nas últimas semanas tivemos um exemplo claro de interpretações diversas sobre uma questão de natureza modesta, mas que agitou ânimos em uma polêmica absolutamente dispensável.
Refiro-me à celeuma feita por setores da própria direita política do espectro nacional, acerca do voto do deputado Jair Bolsonaro. Como se sabe, o parlamentar que se posicionou a favor do andamento normal da denúncia apresentada ao STF pelo Procurador Geral de Justiça contra o presidente da república.
Se autorizada pela Câmara dos Deputados, iniciar-se -ia um procedimento penal contra o Chefe do Poder Executivo Federal.
O voto foi o mais óbvio, claro e esperado para um político de trajetória reta no tocante à intolerância com a corrupção: se há suspeita fundada de ilícito criminal grave, os fatos devem ser apurados, o processo instaurado e os réus, acaso julgados culpados, punidos na forma da lei, independentemente de sua posição social ou das nuances do "momento histórico", expressão, aliás, amada pela esquerda.
Essa é a lógica mais elementar da decência, da moral e do próprio conceito do Estado de Direito. Esse entendimento reflete nada mais nada menos que o mínimo de lisura exigida para o exercício de cargos públicos.Entretanto, devido ao atual conturbado momento político e seus desdobramentos - que colocaram o país numa crise jamais vista - os críticos liberais e conservadores do referido deputado entenderam que seu voto foi equivocado, pois estaria "aliado à esquerda" "colocando o país em uma situação de ainda maior instabilidade". Argumentam que o governo Temer - em razão de sua hábil condução no trâmite das reformas imprescindíveis à retomada do crescimento e do emprego no país - deveria ser mantido a qualquer custo.
Discordo. Ainda que tenhamos momentos dificílimos na desgastada República brasileira; ainda que as reformas sejam necessárias, o parlamentar tem a prerrogativa, o "poder-dever", de votar de acordo com sua consciência e com os parâmetros morais que diz representar. Qualquer congressista é eleito justamente para isso.
O voto de Jair Bolsonaro foi um voto moral, um voto que refletiu as suas - e as nossas - exigências políticas.
Acusações graves e razoavelmente fundadas de corrupção devem ser investigadas sim, doa-se a quem doer. Repito, esse é o mais óbvio dos princípios republicanos.
Bolsonaro foi sobejamente criticado e acusado de "se aliar à esquerda" em virtude do referido posicionamento.
A miopia de tal declaração é manifesta, vez que as razões de Bolsonaro são completamente distintas das razões da esquerda.
A esquerda votou com o fígado, movida pelo ressentimento e pela sua auto-declarada "luta política" contra um governo que declaram ser "ilegítimo", "golpista", e outros adjetivos típicos da cantilena do bolivarianismo brasuca. A esquerda votou motivada pela raiva do sócio perdulário excluído da empresa, com a fúria atabalhoada e patética daquele cônjuge, ébrio incorrigível, que, abandonado, quer depois usar o processo de separação judicial como instrumento de vinganças mesquinhas.
Entendam: a briga com a esquerda com Temer é briga de sócios. A raiva é a raiva dos amantes abandonados. O ressentimento é o de um casório litigiosamente desfeito.
Bolsonaro, por sua vez, votou apenas para que o Poder Judiciário exerça livremente sua função, com a instauração do devido processo legal em face de quem tiver que ser processado e com a aplicação da pena legal a quem eventualmente tiver que ser punido. Na forma da Lei e da Constituição, não dos conchavos políticos.
Como provar as afirmações acima? Compare-se o voto de ambos (Bolsonaro e a esquerda) nos casos de Collor, Dilma e Temer. Os votos e discursos da esquerda são claramente incoerentes entre si. Já Bolsonaro manteve a mesma postura: "pau que dá em Chico, dá em Francisco", já diz o ditado do interior mineiro.
O voto de Bolsonaro foi a defesa do digno. Foi prevalência da moral sobre interesses sazonais políticos. Foi o que deveríamos esperar de TODOS os nossos representantes, vez que, aliás, é isso que eles prometem a cada eleição.
A enorme chiadeira de seus críticos, opositores, detratores e odiadores ocorreria em quaisquer das opções de voto, pelo simples motivo de discordâncias ideológicas, incompatibilidades políticas ou preferências por outro pré candidato. Na verdade, a chiadeira ocorre pelo simples motivo de que Bolsonaro hoje incomoda e incomoda porque sua popularidade cresce. E sua popularidade não para de crescer porque o parlamentar, ao invés da estética do discurso melífluo, hipócrita e "falso bonzinho", prefere dizer o óbvio, o claro, o reto, doa a quem doer.
Certa vez, ouvi que Bolsonaro seria um exército de um homem só. Agora constatei que ele é também um homem de uma moral só. Para desespero daqueles que o acusam de forma pernóstica e desenfreada, mas não podem acusá-lo de trair seus lineares princípios.
Questionado, o parlamentar resumiu bem a questão: "O Brasil aguenta quantos "impeachments" forem necessários; o Brasil não aguenta mais é tanta corrupção" e, acrescento, tanta impunidade concedida aos poderosos.
Só me resta dizer: Bravo, Capitão!
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