por Felipe Moura Brasil
Versão em aúdio
Em 2009, FHC descreveu à Veja como funcionava o loteamento político das prestadoras estatais de serviços telefônicos que atuavam nos estados brasileiros antes da privatização da controladora Telebras, realizada durante seu mandato presidencial:
“O governo nomeava mais ou menos 140, 150 diretores de empresas telefônicas, porque havia várias, em cada estado havia uma do governo, e era uma luta tremenda dos partidos para nomear pessoas. Eu até dizia, quando era líder do MDB: ‘Ah, mas o que é isso? Isso dá voto?’ Não era voto, era dinheiro, porque aquilo lá era negócio.”
Em 2017, Fernando Coelho Filho (PSB) descreve ao Jornal do Commercio o que vai acontecer com os funcionários da Eletrobras após a privatização da estatal:
“Os funcionários vão trabalhar por desempenho, por meritocracia, os bons funcionários não vão sofrer nenhum tipo de coisa. Agora, a Eletrobras tem uma série de distorções. Salários muito acima do teto, excesso de pessoal. Isso tudo vai cair para um padrão muito mais realista dentro de um salário de competição de mercado. Vai ser um processo de contratação de empresa privada, não de empresa pública.”
Para o ministro de Minas e Energia, “isso está muito em linha com o que a sociedade está falando”. “Não para você ter mais empresas grandes e inchadas, cabides de empregos, ineficiência. A população não aguenta mais pagar por isso.”
No vídeo “O cinismo do PT contra a privatização”, eu mostrei que Dilma Rousseff, Lula e a bancada petista na Câmara repudiaram a decisão do governo de Michel Temer de privatizar a Eletrobras, embora Lula, um mês antes, tenha dito que se orgulha de ver empregada doméstica com celular – o que só foi possível com a Telebras privatizada.
Mas a vanguarda do atraso e das boquinhas públicas, obviamente, não se limita ao PT. A ala mais à esquerda do Partido Socialista Brasileiro, o mesmo PSB de Fernando Coelho, está furiosa com o ministro pela medida sobre a qual não foi consultada.
Primeiro, o presidente do Instituto Miguel Arraes, Antonio Campos, acusou Coelho de trair a memória do fundador do PSB e disse que vai acionar a Justiça.
Depois, o deputado Danilo Cabral (PSB-PE) coletou mais de uma centena de assinaturas para criar (se reunir 198) a Frente Parlamentar em Defesa da Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco), com o objetivo de derrubar a medida provisória que permitirá a venda de ações da companhia.
Mas o racha do PSB não é de hoje. Ruralistas filiados ao partido graças ao perfil agregador de Eduardo Campos (1965-2014) já vinham batendo cabeça com “socialistas históricos” da sigla em debates como o das reformas econômicas. A privatização da Eletrobras é apenas a gota d’água que poderá acelerar a saída dos dissidentes.
Disposto a ocupar a lacuna de representividade de uma suposta centro-direita liberal, o DEM espera absorver essa turma, enquanto acena para João Doria e até Bernardinho.
Seja por voto, por dinheiro, ou pelos dois, a política é sempre um balcão de negócios.
felipemb@oantagonista.com
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