quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Três conflitos embalados no seu fundo


 
 
Empiricus Research

 

Três conflitos embalados
no seu fundo

Por Luciana Seabra14/12/2016

Certa vez, preparava um bolo para receber meu irmão, que chegaria de viagem em uma hora, e faltou ovo. Você pode substituir ovo por banana, dizia o artigo na internet. Meu bolo solado de milho com essência de banana até hoje é piada na família.

Você pode substituir chocolate por alfarroba, diria a estrela da alimentação saudável. Eu tentei. Não recomendo. Melhor substituir chocolate por alface.

Pense se algo nesta vida que veio dentro da estrutura “você pode substituir isso por aquilo” foi bom para você.

Recebo e-mails diários nesta linha. São mensagens do gerente do seu banco ou do seu assessor de investimentos que você encaminha em busca de socorro. E agora?

Você procura o assessor com um fundo recomendado por nós. "Você pode substituir o fundo sugerido por este aqui (que coincidentemente começa com o nome da minha empresa). É melhor." Melhor para quem?

Tenho uma coleção tão grande dessas mensagens que outro dia me peguei respondendo a um investidor ao bom estilo Mãe Dináh:

Cláudio, você pode sim pedir a previdência da Verde para o seu gerente do Itaú. O gerente vai te responder que você pode substituí-lo pelo Kinea Previdência. Em seguida, ele vai enviar anexo um gráfico comparando o Kinea com o Verde em uma janela de um mês: exatamente o mês de novembro, quando o Verde, um fundo mais posicionado em risco, sofreu com Trump.

Na sequência, o gerente vai dizer que você é um cliente importante para o banco. Diga SIM para Kinea se quiser um bom fundo conservador sem sair do Itaú, mas aproveite a rara boa vontade para negociar e não ter que pagar a taxa de carregamento.

Diga NÃO e insista no Verde se estiver interessado em correr mais risco com o dinheiro de longo prazo. O gerente vai dizer que o fundo só está disponível para o cliente do private banking. Nesse caso, vá buscá-lo em uma plataforma de varejo.

O Cláudio deve ter me achado louca, mas aposto que acertei toda a sequência. Entenda os conflitos dessa indústria para saber lidar com eles.
 

 
Conflito número 1: a maldição do produto próprio

Você tem uma loja de sapatos artesanais, produz sapatos amarelos e fica com a receita inteira da venda deles. Mas você também vende sapatos marrons de um produtor independente. Você fica com 50 por cento do valor de cada sapato.

Maria entra na loja e diz que quer um sapato. Qual você oferece primeiro? Aposto que o amarelo. Maria entra na loja e diz que quer um sapato marrom. Fala a verdade: você não vai ao menos dizer que o amarelo está na moda?

XP, Geração Futuro e Órama têm seus próprios sapatos. O sapato amarelo nem sempre é ruim, mas, às vezes, é. Preciso que você entenda por que ele é sempre oferecido.

Há ainda os bancos, que só vendem sapatos amarelos para o cliente de varejo. E marrons exclusivamente para o private banking.

Conflito número 2: rebate, o peso da palavra proibida

Fernanda bateu à porta da sua loja de sapatos com calçados pretos de ótima qualidade. Ela paga 20 por cento da venda de cada um para você.

Maria bate à porta e quer um sapato. Mais um momento Mãe Dináh: você vai oferecer primeiro o amarelo (você fica com toda a receita), depois o marrom (você leva 50 por cento) e, por último, o preto (só 20 por cento vai para seu bolso).

No mundo dos fundos, o nome da comissão é rebate . Há quem pague muito (os ruins) e quem pague pouco (os bons).

Pergunte para seu assessor quanto de rebate ele recebe para distribuir o fundo recomendado por nós e quanto ganha por aquele que vem depois de “você pode substituir por”. Posso apostar um sapato que ele vai ficar mudo.

Conflito número 3: os esquecidos

Agora foi o Pedro que bateu à porta da sua loja de sapatos. Ele trouxe os sapatos mais confortáveis do mundo. Ele defende que vendê-los trará status para você.

Você venderia o calçado sem receber nada por isso? Acredito que não.

A Atmos, uma das gestoras de ações brasileiras de histórico mais consistente, nunca pagou rebate aos distribuidores. O fundo Verde, de Luis Stuhlberger, também não. E quem vai falar deles para você antes que eles fechem, como aconteceu com os dois?

E agora, quem poderá me defender?

E se houver um consultor que não produz nem vende sapatos? Alguém preparado para dizer qual é o melhor produto para o seu perfil: preto, marrom ou amarelo?

Essa pessoa até poderia errar – talvez um dia sugira combinar sapato amarelo com calça verde. Mas não seria muito confortável saber que, ao tomar uma decisão, ela só pensa no interesse da Maria?

Quem? Madre Teresa de Calcutá? Não, acesse aqui e conheça. Não há santidade nisso. Um consultor independente também só pensa no interesse de quem paga pelo serviço dele: você.
 


 
NO FUNDO NO FUNDO
Sua coluna quinzenal de fundos

Samba de um juro só

Os bons gestores de multimercados não se intimidaram com o estresse nos juros. “A nossa principal convicção continua a ser que as taxas de juros reais estão em patamar errado, e aproveitamos a volatilidade recente para alongar marginalmente as posições”, escreveu a equipe do fundo Verde, de Luis Stuhlberger, na última carta.

A gestora Garde, na carta de ontem, foi na mesma linha: “a decepção com a atividade e a melhora da inflação vão permitir um ciclo de queda de juros mais intenso do que o imaginado anteriormente”.

Para completar a banda, recebi nesta semana um e-mail de um renomado gestor indignado com os passos de tartaruga do Banco Central. “Acho um absurdo, a economia emburacando, as empresas no high de inadimplência, tudo parado, e os caras lá, paradões achando que está tudo bem. NÃO ESTÁ!”.

Assinamos em baixo. Como diria a Marília, coragem BC!

Parabéns a você e a toda equipe Empiricus por nos alertar sobre as altas taxas cobradas pelos bancos. Veja o exemplo: estou recebendo uma correspondência do Itaú Unibanco, me comunicando que ocorreu uma redução na taxa de administração para 1,5 por cento, sobre o patrimônio do fundo Kinea Sistemático. Espera-se que também outras instituições financeiras acordem para a realidade. Humberto L.

Muito bem observado, Humberto. Em novembro, a Kinea, gestora pertencente ao Itaú, diminuiu as taxas de administração dos fundos Sistemático e Macro Multimercado de 2 por cento para 1,5 por cento ao ano, agora condizentes com os retornos esperados dos fundos.

Itaú, que tal seguir o exemplo e diminuir a taxa daquele DI sobre o qual falamos há seis meses? Para recordar: Itaú Prêmio, 3,9 por cento ao ano.

Já que hoje é dia de falar de conflitos, acompanhei de perto a discussão da Instrução nº 555 da CVM, a regra para fundos. Havia um objetivo explícito do órgão regulador lá: que o rebate (epa, palavra proibida) ficasse mais explícito ao investidor.

Chegou a ser veiculado que a instrução proibia o rebate, o que não é verdade. A CVM apenas exigiu que, em fundos de fundos, nenhuma comissão seja paga por fora, mas sim somada à taxa do alocador, de forma a ficar visível ao cotista.

Na distribuição, a CVM exigiu que o gestor torne explícita na lâmina de informações essenciais a política de distribuição do fundo, no item 10, com a descrição da forma de remuneração dos distribuidores. Em um mundo lindo, deveríamos descobrir ali se o gestor paga ou não rebate e quanto. Daria para comparar um com o outro.

Abri aqui algumas lâminas de fundos que pulam do item 9, simulação de despesas, diretamente para o 11, serviço de atendimento ao cotista. Como diria minha mãe, comeram o 10 com o angu?

Você gosta de pagar imposto?

Quer dar um drible no Leão? Calma, totalmente legal. Um caminho é um fundo de debênture de infraestrutura. Escolhemos o melhor do mercado e explicamos em detalhes como funciona o produto.

Existe outra forma de evitar a mordida da Receita nos seus investimentos: vou detalhá-la em um webinar para assinantes na sexta-feira, às 15h. Espero você lá!

Encerro com quem não topou substituir isso por aquilo e ficou feliz:

“Gostaria de compartilhar com você a informação de que, após muito discutir com meu gerente de relacionamento no Itaú, consegui viabilizar a portabilidade de meu fundo de previdência para o fundo administrado pela Verde, mesmo não sendo cliente Private. Não foi fácil, mostrei que conseguiria aplicar no fundo através da Icatu via XP investimentos, com uma aplicação mínima de 30 mil reais e mensais de 500,00 reais. Logo, se eles não aceitassem a portabilidade interna, eu a faria através da XP. Depois de me oferecerem o Kinea e muito regatearem, dobraram-se. A Empiricus está mudando a forma dos bancos tratarem seus clientes”. Carlos J.

Percebeu que apareci em um dia diferente, né? A partir de hoje nossos encontros são sempre às quartas.
 

 
 

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:. CARTEIRA EMPIRICUS:  Fiz uma sugestão importante para a Carteira Empiricus nesta semana. Se você quer conhecer mais de perto a forma com que toco meus investimentos, fica aqui o convite para conhecer a Carteira.


 

 

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Um abraço,
Luciana Seabra
 
Analistas responsáveis: Felipe Miranda, CNPI, e Walter Poladian, CFP®.

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