“Não há garantia os juros cairão mais rapidamente”
Ritmo da queda da Selic não depende apenas da vontade do BC, diz Paulo Nogueira Gomes
Por Márcio Juliboni
Em meio à pior recessão da história brasileira e com a inflação apontando para baixo, é compreensível a impaciência de muitos com a morosidade com que o Banco Central corta os juros. Mas, para a maioria dos economistas, a equipe de Ilan Goldfajn está correta.
“Para cada ponto percentual de queda da Selic, gera-se até 0,8 ponto de inflação nos trimestres seguintes”, afirma o economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Paulo Nogueira Gomes. “É preciso pensar nas consequências de uma redução rápida dos juros.”
Leia, a seguir, os principais trechos da conversa com O Antagonista:
O Antagonista: Com a queda do IPCA, em novembro, é possível esperar um ritmo maior de corte dos juros pelo BC?
Paulo Nogueira Gomes: Eu diria que há espaço, mas não é garantido. Em dezembro, por exemplo, o IPCA virá mais alto novamente. Eu trabalho com algo acima de 0,5%. Além de ser um período sazonalmente propenso à inflação, ainda haverá o efeito do reajuste do diesel e da gasolina. É um impacto estimado em 0,13 ponto. Além disso, preocupa o impacto da alta do dólar sobre os combustíveis. A Petrobras está fazendo reuniões mensais para tratar de preços. Pode ser que haja um novo reajuste antes da próxima reunião do Copom. Por último, é preciso verificar como a curva de juros nos EUA vai se comportar até a posse de Trump.
O Antagonista: Uma parte da população e do empresariado defende um grande corte dos juros, feito de uma vez ou bem rapidamente.
Gomes: É completamente compreensível que as pessoas pensem assim, afinal, estamos na pior recessão da história. Mas é preciso lembrar algumas coisas. Primeiro, o BC brasileiro só tem um mandado: combater a inflação. É diferente do BC americano, que cumpre dois mandados: conter a inflação e gerar crescimento econômico. Dito isso, é preciso reconhecer que o BC brasileiro está correto. Os estudos mostram que, para cada um ponto de corte da Selic, gera-se até 0,8 ponto de inflação nos quatro trimestres seguintes. Então, quem advoga a aceleração da queda dos juros precisa lembrar daquilo que mais afeta todo mundo: o imposto inflacionário. O BC tem cumprido bem o papel de guardião da moeda.
O Antagonista: Como o mercado avalia a crise política, em meio à necessidade de se aprovar a PEC do Teto e a reforma da Previdência
Gomes: Estas, sim, são medidas importantes que abrem espaço para um corte consistente dos juros. Com sua aprovação, o BC poderá baixar a Selic de modo responsável. Hoje, as contas públicas não fecham. É uma questão de anos para que o governo não tenha mais dinheiro para nada, como já vemos no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. Sem essas medidas, a alternativa será emitir moeda e voltarmos à época da inflação alta.
O Antagonista: Essas são medidas para o médio e longo prazos. Há quem defenda a adoção de medidas mais imediatas de estímulo à economia. Há espaço para isso?
Gomes: A equipe econômica é bem preparada e aguenta bem a pressão por medidas imediatistas. A dúvida é se Temer aguenta. É importante que ele não ceda muito. Mas há boas medidas que podem ser tomadas, como acelerar concessões e privatizações, leilões de blocos do pré-sal, desburocratização e revisão de leis trabalhistas.
O Antagonista: Falou-se, nessa semana, de que Meirelles estaria sendo fritado. Quais seriam as consequências de uma troca do Ministério da Fazenda, dentro desse cenário?
Gomes: O mercado interpretaria a troca como negativa. Meirelles está sendo pressionado justamente porque é austero com as contas públicas. Isso é louvável. Deveríamos aplaudi-lo. Sua queda seria o sinal de que a economia passaria a ser conduzida por alguém mais flexível na política fiscal. Os Estados, corretamente, reivindicaram uma fatia das multas da repatriação. Mas foi um absurdo o que fizeram nos últimos anos, criando gastos correntes, com base em receitas não-recorrentes. Além disso, o mercado não consegue imaginar quem poderia substituir Meirelles hoje.
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