Por que um lucro recorde de US$ 18 bi é um problema para a Apple?
- 29 janeiro 2015
A Apple anunciou o maior resultado trimestral da sua história - lucro US$ 18 bilhões. O fato, sem dúvida, é bom para gigante americana, mas coloca a empresa em um dilema (que, admitamos, muitos gostariam de ter): o que fazer com tanto dinheiro?
O resumo da história é que a empresa ganha mais dinheiro do que tem capacidade de gastar. A Apple tem reservas perto de US$ 142 bilhões, o suficiente para comprar, em teoria, cerca de 480 empresas listadas no índice S&P 500, em Nova York. Ou um país como a Lituânia - três vezes.
O valor de mercado da empresa é de US$ 690 bilhões - maior que o valor das bolsas de muitos países, como México (US$ 445 bilhões) ou Rússia (US$ 374 bilhões), segundo levantamento da Thomson Reuters divulgado pelo jornal Financial Times.
Para efeito de comparação, a bolsa brasileira vale cerca de US$ 844 bilhões, de acordo com dados da BM&F Bovespa.
O que fazer?
Comprar empresas é um negócio complicado. A última aquisição da Apple, o serviço de músicas Beats, custou US$ 3 bilhões e foi a maior compra já feita pela empresa.
Ela pode também investir em seu próprio crescimento: está gastando estimados US$ 5 bilhões em sua sede, a Apple Campus.
Mesmo assim, dinheiro continua entrando. A maior parte fica guardada no chamado de "caixa e equivalentes de caixa" e em títulos de curto e longo prazo do governo e empresas.
A Apple administra seu dinheiro através de uma subsidiária, a Braeburn Capital, com sede em Reno, Nevada, Estado americano que não cobra imposto de renda ou sobre ações de empresas. Este é um dos maiores fundos hedge (proteção) do mundo.
Mas acionistas, como o ativista Carl Icahn, têm exigido que a empresa devolva parte deste dinheiro aos acionistas através da recompra de ações. Há dois anos, o administrador de fundos David Einhorn, da Greenlight Capital, chegou a processar a empresa para tentar receber compensações.
Eles argumentam que o dinheiro, investido principalmente em títulos do governo, dá uma taxa de retorno irrisória.
Segundo Einhorn, tirar o excesso de caixa do balanço da Apple e devolvê-lo aos acionistas aumentaria o valor da empresa em US$ 50 por ação ou mais.
A empresa concordou e, em 2012, começou a comprar de volta suas próprias ações. No ano passado, gastou cerca de US$ 45 bilhões em operações de recompra. Mas isso não fez muita diferença.
Os últimos resultados mostram que a empresa nunca teve tanto dinheiro. No total, um volume de cerca de US$ 178 bilhões. Cerca de US$ 35 bilhões em dívida reduzem esse valor a US$ 142 bilhões.
Sim, dívida. Por que, com tanto dinheiro no cofre, você pediria mais dinheiro? A resposta é que pouco desse dinheiro é facilmente acessível para o pagamento de acionistas, já que cerca de 89% desse valor está no exterior, fora do alcance das autoridades fiscais.
Reforma tributária
Para trazer esse dinheiro de volta, a empresa teria que pagar impostos ao redor de 35%. Muito mais fácil, então, pedir dinheiro emprestado. E, com tanto dinheiro guardado, os bancos estão felizes em emprestar à Apple a taxas baixíssimas - mesmo para os padrões atuais.
No ano passado, a Apple financiou sua recompra de ações com uma emissão de bônus de US$ 17 bilhões.
Assim, a Apple fez o que Icahn e Einhorn defendem. O preço da ação se recuperou de cerca de US$ 60 em meados de 2013 para aproximadamente US$ 110 nesta semana. Mas a montanha de dinheiro segue lá.
Há dois anos, o presidente da Apple, Tim Cook, disse ao Congresso americano que muito deste montante poderia, eventualmente, voltar para os EUA.
Ele até admitiu que a Apple se contentaria em pagar mais impostos, mas apenas diante de uma "grande simplificação das regras de impostos sobre empresas", incluindo uma "taxa razoável sobre lucros no exterior que permita o retorno de capital para os Estados Unidos".
Mas é claro que, mesmo se o dinheiro voltasse livremente aos EUA, ninguém poderia garantir que seria investido de maneira melhor do que é agora.
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