Uma campanha de cinco Itaquerões
Quase meio milhão de candidatos a prefeito e a vereador utilizou R$ 4,1 bilhão em recursos públicos e privados, próprios ou captados, diretos e indiretos, para concorrer ao direito de, a partir da próxima terça-feira, influir nos rumos das 5.565 cidades brasileiras. Em média, a eleição custou aos candidatos R$ 29,44 para cada um dos 138,5 milhões de eleitores.
A 54ª turma do Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha levantou dados do custo do voto das capitais do Brasil para traçar perfis dos caminhos do dinheiro na eleição – da vereadora recordista de votos que rejeitou doações de empresas à prefeita que recebeu 100% dos seus recursos em doações ocultas, feitas por empresas a diretórios e comitês partidários. (Leia aqui todos os perfis.)
Em 2012, as doações registradas ficaram mais transparentes: a Justiça Eleitoral publicou pela primeira vez os detalhes dos doadores antes da eleição. Isso, segundo os especialistas entrevistados, torna o Brasil um dos países mais transparentes no tocante ao financiamento de campanhas, ainda que a fiscalização dos recursos deixe a desejar. As doações ocultas, feitas por meio dos partidos e que dificultam ligar doador e receptor, são consideradas benéficas por especialistas, por serem declaradas e teoricamente reduzirem a dependência dos candidatos em relação aos doadores.
O assunto, porém, segue como tabu entre os envolvidos. Doadores e candidatos dão uma resposta-padrão vaga a quem pede detalhes sobre o financiamento: “todas as doações estão dentro da lei”. Se não estivessem, dificilmente estariam registradas; o mero fato de estarem, porém, não encerra o assunto, que merece um debate mais claro.
Há pouco consenso quanto a como melhorar o sistema. Os projetos de reforma em debate no Congresso propõem principalmente o financiamento exclusivamente público. Nenhuma grande democracia do mundo utiliza esse modelo. Também há dúvidas sobre se a proibição do caixa um teria alguma eficácia no combate ao caixa dois.
Além do que é gasto pelos partidos, parte do custo da eleição já sai dos cofres públicos –cerca de R$ 1 bilhão. A Justiça Eleitoral gasta R$ 395,3 milhões em custos operacionais (transporte das urnas, segurança, pessoal, material) e R$ 606,1 milhões é o que o Tesouro deixa de arrecadar em impostos com o horário eleitoral gratuito.
.A FOLHA DE SÃO PAULO
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