Certo, nada tem a ver. Mas a primeira medalha de ouro conquistada foi obtida por uma moça negra, Rafaela Silva, favelada, mulher, sem educação formal, claro, e naturalmente pobre.
Por tabela, me leva a uma comparação idiota. Ninguém me supera nos feitos de idiotices.
É possível imaginar uma criança mulata, nascida num morro, do Livramento, filho de um pintor de paredes, mãe lavadeira, num país escravagista, gago, epilético, saúde frágil, que vendeu doces pelas ruas de São Cristovão, e por óbvio nunca desfrutou de uma educação formal, tudo o que aprendeu foi como autodidata, ao ser enterrado, o Rio chorou, e foi acompanhado, tal qual um estadista, por milhares de pessoas, principalmente a elite da República, ele que também encantara a velha Corte imperial?
É possível imaginar que aquele moleque iria mergulhar, de forma implacável, na mesquinhez humana e no vazio das ilusões, produzindo uma obra universal, mas focada na emergência de uma nova classe e não perdendo de vista, nunca, o parasitismo social, o tênue limite entre a razão e a loucura, o adultério, a hipocrisia, a ambiguidade humana, o egoísmo, e não menos a vaidade?
Estou falando do Bruxo do Cosme Velho. Se forcei a barra, mil desculpas.
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