A Serra da Bocaina amanheceu agasalhada pela neblina. É o seu forte. Ela estava carente, morrendo de sede, já que aqui não chovia há muito.
Ainda sob névoa, caminhei na direção da trilha, onde lá mora o “Velho Diabo”.
Parecia muito feliz.
Disse-me que depois que rompeu com Asmodeu, abdicou da vaidade e da ganância: renunciei ao poder, recusei as grandes bandeiras sociais, e me voltei unicamente para o seu mundo, minha roça, família e aos poucos amigos, do que sobrou.
- Tudo ficou mais sereno, confidenciou.
Nunca o imaginara tão reflexivo, tão sábio.
A felicidade, disse com um olhar oblíquo e nada dissimulado, pode “estar nestas velhas calças puídas que ganhei de uma mulher a que muito amei.”
- Acossado pela vida, desencantado com todas as promessas que o Diabo lhe fez – poder político, reconhecimento internacional, adulação gratuita, paixão dos pobres e excluídos, vassalagem de empresários e banqueiros – posso dizer que nada conta, nada merece mais que uma moeda de um real, celebrando a nossa Olimpíada.
Prosseguiu lembrando, parecia até um leitor de Machado, que nenhuma preocupação atual – cassação de Dilma, Eduardo Cunha, terrorismo na Olimpíada, triunfo da equipe masculina de futebol, guerras no Oriente Médio, o incomodavam mais, nem lhe tiravam o sono.
- Nem a alegria da geração que começa - os jovens são sempre crédulos, nem o pessimismo da que se despede, os velhos são sempre céticos – valem minhasurrada calça de algodão vagabundo.
Sim, concluiu; a felicidade é esta velha e surrada calça de algodão, que me faz livre, leve, feliz, sem o temor sequer do Japona da Polícia Federal batendo na porteira de meu rancho.
Na vida, passadas as emoções, revisitado o tempo, tudo são causas vadias.
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