A gasolina está cada vez mais barata em vários países, menos no Brasil. Em terras tupiniquins, o preço do combustível não cai porque além de o governo ter segurado os reajustes dos preços dos combustíveis até o mês passado para evitar alta da inflação, devido ao peso desse item de consumo no orçamento das famílias direta e indiretamente, precisa, agora, reequilibrar o caixa da Petrobras e ajustar as suas contas. Durante os últimos quatro anos, enquanto o valor do barril de petróleo estava acima de US$ 100, a estatal do petróleo não podia compensar em seus preços toda a defasagem da gasolina importada mais cara para abastecer o mercado brasileiro, como estratégia de manter a inflação abaixo do teto de 6,5% ao ano. Nas contas do diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, essa operação impôs um prejuízo de R$ 50 bilhões à Petrobras durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.
Com o petróleo hoje em baixa de preços, a situação se inverteu e o ganho dos preços internos do combustível alcança 70% até janeiro, pelos cálculos de Pires. Esse fenômeno rendeu quase R$ 4 bilhões a mais ao caixa da empresa no mês passado. Se houvesse uma continuidade desse cenário, a Petrobras levaria pouco mais de um ano para reverter o prejuízo acumulado desde 2011. Mas, com o dólar rompendo a barreira de R$ 2,84, essa diferença favorável caiu para 24%. “Com essa alta repentina do dólar vai demorar muito mais tempo para a Petrobras reequilibrar o caixa”, diz o especialista, sem apostar em novos prazos, dada a forte volatilidade dos mercados de câmbio e de petróleo.
Quem continuará, portanto, a pagar essa fatura é o cidadão brasileiro. O desequilíbrio das contas do governo, que gasta mais do que arrecada, também tem seu custo. Somente em 2014, o rombo entre receitas e despesas do setor público foi de R$ 32,5 bilhões. Analistas de bancos e corretoras têm dúvidas se o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, conseguirá converter esse saldo em superávit de R$ 66,3 bilhões, ou 1,2% do Produto Interno Bruto (o PIB é a soma da produção dos bens e serviços do país), como vem prometendo.
Como o Orçamento de 2015 ainda não foi aprovado pelo Congresso, o contingenciamento esperado de R$ 65 bilhões ainda não ocorreu e o ajuste vem se dá, no momento, apenas do lado da receita, ou seja, nos impostos. Uma das primeiras medidas de arrocho foi a volta do imposto sobre a gasolina, a Cide, em maio, e, até lá o governo aumentou em R$ 0,22 o PIS e a Cofins sobre a gasolina e R$ 0,15 sobre o diesel na distribuidora. Na bomba, o aumento para o consumidor foi bem maior, em torno de R$ 0,30.
O brasileiro não conseguirá se aproveitar do bom momento da queda dos preços do petróleo no mundo e tem convivido com uma inflação que nos últimos 12 meses até janeiro passou dos 7%. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 7,14% nesse período, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) A gasolina está em média 30% a 35% mais barata no exterior. Nos Estados Unidos, por exemplo, o galão de 3,78 litros custa o equivalente a US$ 2,10. O litro, portanto, é vendido a R$ 1,59, enquanto no Brasil há cidades em que o consumidor está pagando o dobro disso.
Não há expectativa de que os combustíveis voltem a baratear tão cedo, a não ser no Paraguai, onde a Petrobras baixou os preços. “O consumidor pode esquecer. Neste momento, é impossível que o preço da gasolina caia tão cedo”, avisa a especialista na área de commodities Tereza Fernandes, diretora da consultoria MB Associados.
Sem retorno Os preços do petróleo começaram a despencar no segundo semestre de 2014 e até agora a desvalorização está na casa dos 55%. As estimativas dos especialistas são de que vai demorar até quatro anos para que o preço do barril volte a ficar acima de US$ 100. Essa reviravolta está criando uma série de mudanças no cenário internacional. A complexa operação de extração do petróleo em águas ultraprofundas se torna inviável do ponto de vista do retorno financeiro da atividade, com o barril avaliado abaixo de US$ 50, na visão de especialistas. A Petrobras informa que o ponto de equilíbrio do pré-sal é de US$ 45 por barril de petróleo, sem considerar os gastos com infraestrutura logística. O barril do petróleo leve, do tipo WTI, negociado em Nova York, atualmente, está na casa de US$ 50, conforme dados da Agência de Informação de Energia dos Estados Unidos.
“Essa forte queda do preço do petróleo deve fazer com que os investimentos em energias alternativas sejam postergados, como é o caso do shale gas (ou gás de xisto) dos Estados Unidos. Quem investiu não deve interromper, mas dificilmente haverá novos empreendimentos”, afirma o professor de economia e política internacional do conceituado centro de estudos em negócios suíço IMD, Carlos Braga. Na avaliação de Braga, os investidores tendem a se retrair, de outro lado, em razão das denúncias de corrupção na Petrobras, investigadas na operação Lava-Jato. “Aos níveis de preço hoje, esses investimentos marginais ficariam menos interessantes. Vamos certamente ver um atraso nos aportes em campos tradicionais e no pré-sal brasileiro”, afirma.
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