quarta-feira, 19 de março de 2014

PAREM DE TAXAR A POLÍCIA DE MONSTROS.


LEIAM:
meus superiores confirmaram.
Lembro como se fosse ontem. Um sábado à noite e uma tradicional festa folclórica na comunidade da Formiga, na Tijuca. Minha guarnição foi deslocada para apoiar a tal festa e debaixo de olhares preconceituosos fomos hostilizados pela grande maioria presente. Enquanto a população se divertia, assistíamos tudo de camarote. Agir contra os ilícitos naquelas circunstâncias seria um grande erro. Provocaríamos a ira de todos e teríamos que utilizar os meios cabíveis para dispersar a multidão...
Transcorria tudo bem até às 2 horas da manhã, quando um sujeito visivelmente drogado (posteriormente, comprovado por médicos), caiu de uma escadaria e feriu a cabeça. Um corte profundo que causou a comoção da população e os gritos histéricos: “Socorro, seu Polícia. Ele está morrendo.” Deixamos qualquer orgulho de lado. O estresse da situação deu lugar a adrenalina de um sangue azul e corremos ao socorro do sujeito. Isolamos a área e o socorro médico foi acionado.
O tempo passava, o sangue escorria e nada de ambulância subir o ‘morrão’. Decidimos então, colocar o rapaz na viatura e partir, juntamente com sua mãe, ao hospital federal do Andaraí. Bruno Tvardovski Dirigia, outro companheiro fico no banco da frente, por conhecer o caminho, e eu fui ao lado da mãe e do enfermo, na parte traseira da viatura.
No meio do caminho, em meio a irregularidades das estradas cariocas e as cursas sinuosas das comunidades do Borel e Andaraí, o rapaz teve uma convulsão e se debatia. Seus olhos reviravam e sua língua se enrolava. Percebi o cenário quando a mãe clamou por ajuda, dizendo que seu filho estaria morrendo. Não pensei duas vezes, pulei a velha senhora e fui acudir o enfermo. Pus meu dedo em sua boca e desenrolei sua língua. Pressionei seu corpo na lateral da viatura em uma reação desesperada de conter sua agitação e controlar o sangue perdido. Enfim, chegamos ao hospital. Percebi que a porta ao lado do enfermo não estava completamente fechada, então orei e agradeci. “Deus, obrigado por segurar a porta da viatura e ter impedido que este homem tenha caído na rua.”
Meus braços estavam cheios de sangue. Fui repreendido pela enfermeira. Tive o risco de perder o dedo e/ou contrair alguma doença... Só pedi um álcool e o número do BAM de atendimento para regressar a minha unidade.
Agradecimento? Reconhecimento? Meritória? Nada disso! Apenas fiz o meu trabalho e dei sorte que todos improvisos deram certo. Isso em mais uma noite normal de trabalho. Caso algum procedimento feito viesse a falhar, eu e minha guarnição seríamos os monstros da vez.
Só pra constar. Estamos esperando a ambulância até hoje.

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