Condenado no mensalão, ex-diretor do Banco do Brasil foge para a Itália
DIANA BRITO
DO RIO
DO RIO
Atualizado às 13h15.
O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato está foragido na Itália desde o final da tarde de sexta-feira (15). A informação, no entanto, só foi confirmada pela Polícia Federal neste sábado (16) após telefonema do advogado de Pizzolato.
Uma equipe da polícia esteve na casa do petista para buscá-lo ontem, mas a família disse que não sabia o paradeiro dele. Parentes do ex-diretor do BB emitiram uma nota à imprensa afirmando que Pizzolato está na Itália há 45 dias.
Em carta distribuída por seu advogado, Marthius Lobato, o ex-diretor diz que o julgamente tem "caráter de exceção e motivações político-eleitoral".
"Por não vislumbrar a minha chance de ter um julgamento afastado de motivações político-eleitorais, com nítido caráter de exceção, decidi consciente e voluntariamente, fazer valer meu legítimo direito de liberdade para ter um novo julgamento, na Itália, em um Tribuna", diz o texto.
O advogado disse à Folha que só soube que Pizzolato foi para a Itália hoje ao encontrar familiares dele em Copacabana, zona Sul do Rio. Ele contou que não tem informações de como seu cliente deixou o país sem os passaportes europeu e nacional.
"Minha participação está encerrada. Agora, ele é um ex-cliente porque os meus poderes como advogado para representá-lo tem limite no trânsito em julgado", disse Lobato.
De acordo com a PF, se o petista for localizado na Itália o governo brasileiro --através do Ministério da Justiça -- vai entrar em contato com a Corte Suprema italiana pedindo a extradição dele. Mas ele pode ter entrado com pedido de asilo político.
Lula Marques/Folhapress | ||
O ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, quando depôs na CPI dos Correios, em 2005 |
Ainda não se sabe quando e como Pizzolato, que tem cidadania italiana, saiu do país. Segundo a PF, ele não frequenta o apartamento dele em Copacabana, zona sul, há dois meses.
Pizzolato foi o primeiro a ter a prisão decretada pelo STF ( Supremo Tribunal Federal) no processo do mensalão --na sexta-feira (15) e foi o único, da lista com os primeiros mandados expedidos pelo STF, a não se entregar à polícia. Delúbio Soares, o penúltimo, se apresentou à Polícia Federal, em Brasília neste sábado.
Desde ontem, a Interpol está em contato com autoridades italianas. A inteligência da polícia recebeu informação de que ele teria viajado para a Itália há 45 dias. Na última quarta (13), os ministros do STF rejeitaram por unanimidade recurso apresentado pelo ex-diretor do Banco do Brasil.
Com isso, ficou mantida a pena de 12 anos e sete meses de prisão em regime fechado estabelecida pela Corte no ano passado pelos crimes de corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro.
Editoria de arte/Folhapress | ||
*
Leia a íntegra da carta de Pizzolato:
Nota Pública
Minha vida foi moldada pelo princípio da solidariedade que aprendi muito jovem quando convivi com os franciscanos e essa base sólida sempre norteou meus caminho.
Nos últimos anos, minha vida foi devassada e não existe nenhuma contradição em tudo o que declarei seja em juízo ou nos eventos públicos que estão disponíveis na internet.
Em meados de 2012, exercendo meu livre direito de ir e vir, eu me encontrava no exterior acompanhando parente enfermo quando fui, mais uma vez, desrespeitado por setores da imprensa.
Após a condenação decidida em agosto, retornei ao Brasil para votar nas eleições municipais e tinha a convicção de que no recurso eu teria \êxito, pois existe farta documentação a comprovar minha inocência.
Qualquer pessoa que leia os documentos existentes no processo constata o que afirmo.
Mesmo com intensa divulgação pela imprensa alternativa - aqui destaco as diversas edições da revista Retrato do Brasil - e por toda a internet, foi como se não existissem tais documentos, pois ficou evidente que a base de toda a ação penal tem como pilar, ou viga mestra, exatamente o dinheiro da empresa privada Visanet. Fui necessário para que o enredo fizesse sentido. A mentira do "dinheiro público" pára condenar Todos. Réus, partido, ideias, ideologia.
Minha decepção com a conduta agressiva daquele que que deveria pugnar pela mais exemplar isenção, é hoje motivo de repulsa por todos que passaram a conhecer o impedimento que preconiza a Corte Interamericana de Direitos Humanos ao estabelecer a vedação de que um mesmo juiz atue em todas as fases de um processo, a investigação, a aceitação e o julgamento, posto a influência negativa que contamina a postura daquele que julgará.
Sem esquecer o legítimo direito moderno de qualquer cidadão em ter garantido o recurso a uma corte diferente, o que me foi inapelavalmente negado.
Até desmembraram em inquéritos paralelos, sigilosos, para encobrir documentos, laudos e perícias que comprovam minha inocência, o que impediu minha defesa de atuar na plenitude das garantias constitucionais. E o cúmulo foi utilizarem contra mim um testemunho inidôneo.
Por não vislumbrar a minha chance de ter um julgamento afastado de motivações político-eleitorais, com nítido caráter de exceção, decidi consciente e voluntariamente, fazer valer meu legítimo direito de liberdade para ter um novo julgamento, na Itália, em um Tribunal que não se submete às imposições da mídia empresarial, como está consagrado no tratado de extradição Brasil e Itália.
Agradeço com muita emoção a todos e todas que se empenharam com enorme sentimento de solidariedade cívica na defesa de minha inocência, motivados em garantir o estado democrático de direito que a mim foi sumariamente negado.
Henrique Pizzolato
LEIA MAIS NA FOLHA DE SÃO PAULO.
Porquê a polícia federal não segurou o passaporte dele? Porquê a polícia federal foi omissa na fuga dele? Tem Lula na linha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário