sábado, 29 de junho de 2019

João Augusto Jordão

É tudo tão estranho. 
Milhares de horas de gravações, interceptações legítimas, delações consistentes, documentos robustos, acusação forte e sentenças condenatórias irrepreensíveis.
Tudo isto para desmonte da mais sórdida quadrilha que se estruturou no país e que assaltou o povo brasileiro sem dó nem piedade.
Quem professou o mantra que dizem ser Maquiaveliano, e não é, de que os fins justificam os meios, foram os delinquentes que agora cumprem penas.
Uns queriam poder e dinheiro e os outros queriam dinheiro e poder.
Não mais que de repente, diálogos pueris, sem qualquer conotação de antijuridicidade, extraídos de forma ilícita dos meios de comunicação de pessoas, em grave atropelo ao direito sagrado da privacidade, passam a ser tidos como suficientes para anular tudo o que foi feito e, para gáudio de juristas endinheirados, com promessas de ganhos muito maiores, invertem-se todos os papéis nesse tétrico teatro que, parece-me, adredemente ensaiado.
Jamais o povo brasileiro havia visto engravatados e poderosos serem presos e condenados, com irretorquíveis provas do mais cínico banditismo perpetrado contra uma nação e seu povo.
Foram bilhões de DÓLARES que estes quadrilheiros com bottons partidários e broches de diamante, obtidos com a farra monumental que patrocinaram, roubando de um povo sofrido, amargurado, abandonado, ao qual eram distribuídas migalhas.
Jamais, ao longo dos meus 46 anos de militância, tive notícia de uma orquestração de tal porte, que pretende subverter todos os efetivos ganhos que a operação lava-jato ofertou à nação.
Foi uma verdadeira faxina ética que abalou os alicerces sólidos da corrupção, pois que atingiu corruptos e corruptores do mais relevante quilate.
Quando se poderia supor que um Marcelo Odebrecht, o Príncipe dos Empreiteiros, ficaria dois anos preso e que, para se livrar desta condição, mesmo desmoralizado e demonizado poder voltar para casa, entregou um a um os nomes mais podres que a história remota e recente do Brasil conhece.
Agora surgem os diletantes do direito para afirmar que a Constituição, as garantias aos direitos fundamentais foram aniquiladas pelo juiz e pelos procuradores do Ministério Público Federal, posto que eles trocaram mensagens, onde o tema era a persecução penal desses endiabrados políticos e os faunos das mega empreiteiras brasileiras.
Tudo perdido.
Essa corja canalha que assaltou o tesouro nacional, que carreou para seus bolsos bilhões de dólares, agora se posta de injustiçada e seus prestimosos advogados, alguns sedentamente movidos por régios honorários, outros por posturas ideológicas exóticas, pretendem anular a construção de um país mais ético, mais justo e soberano que a operação lava-jato proporcionou, tudo porque o Juiz conversou com Procuradores.
Falsos moralistas, hipócritas que se escondem atrás de textos da mais brilhante literatura jurídica, para abonar as condutas sórdidas de seus clientes.
Sem a menor cerimônia colocam a justiça no banco dos réus e de lá retiram seus bandidos de estimação.
Claro que virão gordas e polpudas recompensas, ou alguém aí é capaz de supor que essas manifestações todas tenham como escopo a pureza do direito?
A classe política quase como um todo está exultante, pois seus algozes estão espremidos, assim pensam.
O empresariado corruptor respira aliviado e já começa a tramar novas transações.
Nossos luminares do direito não param um único minuto para lamentar e se solidarizar com os tantos brasileiros que morreram por falta de leitos nos hospitais, por carência de remédios que a saúde pública não pode comprar; pelos acidentes fatais em rodovias mal conservadas, porque não havia dinheiro para sua manutenção; pelos meninos famintos que vão à escola pelo prato de comida e ela estava faltando; pela vasta criminalidade que apavora as famílias e não há meios materiais para conter essa horda, porque o sistema de segurança está falido, por falta de recursos.
Importante mesmo é invocar os direitos fundamentais para quem vilipendiou a nação e arrasou a economia do país.
Interessante que com a mesma veemência que apontam o dedo contra o magistrado e o Ministério Público, não o fazem contra os bandidos que invadiram a privacidade, a intimidade de pessoas, o que, me parece, também seja um direito fundamental.
Com a lava-jato a teta dos maganos, que esgrimem o direito para beneficiar bandidos, secou. A indignação dos cultores das letras jurídicas vinha se revelando a cada dia, com ressonância em alguns setores do judiciário, especialmente na Suprema Corte.
Essa turma entrará em êxtase quando, e se, puserem o juiz e procuradores atrás das grades, sem direito à ampla defesa, e forem soltos todos os delinquentes que foram apanhados nos piores mal feitos da república.
Zé Dirceu, Lula, Cunha, Sérgio Cabral, Odebrecht, Andrade e Gutierrez, os meninos arteiros da OAS, os Camargos e Correas, o Queiroz e o Galvão, o tesoureiro do Pixuleco e outros menos votados que estão recolhidos porque efetiva e definitivamente roubaram a pátria

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