Uma foto visionária. Há o bordão que vale por mil palavras. Pode ser.
Mas esta foto de Erno Schneider, o querido Erno, foi uma premonição.
Jânio Quadros, presidente do Brasil, e Frondizi, da Argentina, caminham pelas ruas de Uruguaiana, entre os dois países, nos idos de 1961.
Naquele ano os EUA rompem com Cuba e invadem a Baía dos Porcos. Gagarin inicia entre os homens a primeira viagem espacial.
Guevara invade os corações e mentes dos jovens de toda a América Latina. A Alemanha Oriental ergue o Muro de Berlim, o símbolo maior da Guerra Fria.
A guerra ideológica, socialismo versus capitalismo, domina o mundo, o que já não acontece hoje, e Jânio, contraditório, não sabendo que rumo seguir, conforme revela a foto, mergulha o país em temores e apreensões.
Logo depois renuncia, abrindo caminho para uma ditadura militar que nos estrangulou durante duas décadas.
Eis um registro de imagem visionário, mais que uma premonição, resultado de um profissional sensível, humano, querido, possuído de alma, conforme foram os anos de sua vida, fotografando o inusitado, o surpreendente, o óbvio, o momento comum, mas, com os olhos de um profeta.
Quando aportei ao Jornal do Brasil, em 1970, esse gaúcho de olhar terno, já consagrado em sua arte, com imensa ternura, comunicou ao vira-lata estreante:
- Seja bem-vindo; os dois extremos do país costumam incomodar, e terminou sorrindo.
Fora-lhe dito que eu era acreano.
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