Já não é novidade para ninguém que a direita true (*) neocon (uma das variações da direita true) parece, ao menos no que se vê em boa parte de seus adeptos, não gostar da luta real pelo poder. Em vez disso, cultuam totens.
É por isso que quando escrevi o texto
"'Fora Foro' é meuzovo!", algumas pessoas enlouqueceram. No meu texto, eu simplesmente dizia que ficar falando "Fora Foro" e se limitar a isso é resultante de falta de foco e, em alguns casos, até má-fé. O problema, no entanto, não está em gritar "Fora Foro", mas achar que sua ação política contra o Foro se limita a isso, quando na verdade aquele que protesta contra o Foro deveria ter demandas políticas intermediárias que fossem congruentes com aquilo que ele diz acreditar: lutar contra o Foro. Essa congruência se veria, por exemplo, se os adeptos do "Fora Foro" tivessem feito algo contra o controle bolivariano de campanhas, implementado em 17/9. Mas ficaram caladinhos, como se isso não tivesse nada a ver com a implantação do totalitarismo petista por aqui. E então, depois disso, podemos desconfiar - ao menos taticamente - não de quem pede "Fora Foro", mas de quem se limita a isso. (E aí não poderia deixar de surgir a mentirinha reconfortante de dizer que "Luciano Ayan quer que parem de falar 'Fora Foro'", quando meu texto foi em outra direção, pedindo que o "Fora Foro" deixasse de ser apenas gogó para se tornar lutas pragmáticas)
Por exemplo, uma das formas de luta seria exigir que a publicidade institucional tivesse regras claras, mas hoje é utilizada cada vez mais apenas como parte dos resultados previstos pelo PT com o controle bolivariano de campanhas. Ou seja, a publicidade institucional não tem mais nenhuma finalidade de orientação ao povo em campanhas de crise. Na realidade, é usada unicamente para arrumar pretextos de o governo comprar propaganda a partir do dinheiro estatal em benefício do PT.
Aproveitando-se da lentidão e da incompetência no enfrentamento à proliferação do vírus zika, a Câmara decidiu impor ao governo uma nova lei sobre propaganda oficial. Deseja-se regulamentar o princípio constitucional segundo o qual a publicidade governamental precisa ter um caráter educativo e informativo, obrigando o Estado a orientar a sociedade em situações como a atual, em que o mosquito Aedes aegypti, além de transmitir dengue e chikungunya, espalha o vírus zika e o pânico da microcefalia.
As caldeiras do Congresso serão religadas nesta semana. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, encomendará à sua assessoria um levantamento de todos os projetos sobre o tema que já tramitam na Casa. A ideia é fundir tudo o que for aproveitável numa única proposta, votando-a em regime de urgência. Deve-se a iniciativa a uma sugestão feita a Cunha pelo deputado Lúcio Vieira Lima.
“Num instante em que o mosquito faz e acontece no país, não se vê no rádio nem na tevê uma mísera publicidade governamental orientando a população”, disse Lúcio. “Com a popularidade baixa, o governo da presidente Dilma tende a preferir as peças de autopromoção. Conversei com Eduardo Cunha. E ele concordou que é preciso agir. O primeiro passo é levantar os projetos que já estão em tramitação. Depois, aprovar uma boa proposta.''
Lúcio acrescentou: “Não será por meio de entrevistinhas do ministro Marcelo Castro (Saúde) que vamos conseguir orientar a população. A própria presidente Dilma seria a primeira a se beneficiar com uma campanha de esclarecimento público. Orientada, ela falaria menos besteira sobre o tema.''
Sejamos claros. Qualquer legislação regulamentando a publicidade institucional para evitar que o governo a utilize para fins particulares é um míssil político lançado contra o PT e o seu projeto totalitário. E, curiosamente, esta demanda não veio daquela direita gritando "Fora Foro", mas de deputados independentes. E isso deveria ser vergonhoso, pois atacar o uso indevido de verbas de publicidade do governo deveria ser uma das prioridades na luta contra o totalitarismo socialista, que é exatamente o projeto do Foro.
O problema então não está em bradar "Fora Foro", mas se limitar a ele, especialmente quando convertido apenas em um totem, não em um objetivo real para o conflito político.
Podemos observar isso no cotidiano de uma empresa onde um gerente de qualidade resolva implementar o Six Sigma. Supondo que ele tenha oportunidades de tentar essa implementação, imagine que ele coloque como meta falar "O Six Sigma é a revolução que precisamos", com o objetivo de "criar a conscientização". A ideia é que daqui a 10 anos todos falem em Six Sigma e, enfim, a organização terá mudado. Mas alguém questiona: o que podemos fazer durante esse interregno para que o objetivo final seja alcançado mais facilmente? Podemos implementar alguns projetos adicionais de qualidade? Podemos ter indicadores quantitativos? Ou seja, todos itens que poderiam facilitar aquilo que ele diz acreditar são ignorados. A pergunta é: por quê? Entre as explicações, temos falta de foco ou talvez até má-fé.
Mas voltando ao mundo das lutas reais, poderia existir pressão por essa regulação, e até o aproveitamento para a construção de frames como: "O governo petista não fez publicidade para alertar o cidadão quanto ao virus zika. Estamos assistindo pessoas sendo contaminadas, crianças adquirindo microcefalia e sonhos familiares sendo destruídos porque esse partido desumano não fez o seu trabalho, até mesmo quanto à publicidade, que preferiu utilizar em nome de seu projeto sádico de poder".
Dizer coisas assim, bem como pressionar os deputados a cortar a farra do uso indevido de publicidade institucional pelo PT, é parte, enfim, de um real projeto para abalar o totalitarismo não só do PT, como de todas suas linhas auxiliares.
(*) Direita true significa uma direita que se autodenomina como "a verdadeira direita contra falsas direitas", geralmente a partir de exageros, distorções da realidade e purismos exacerbados.
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