A tela é construída em diversas camadas de polímero, impressas uma de cada vez. [Imagem: Yong Lin Kong et al. - 10.1021/nl5033292]
Tela na lente de contato
Será que alguém preferiria os óculos se pudesse contar com lentes de contato que exibem vídeos e ainda detectam problemas de saúde?
Mais do que isso, lentes de contato que poderiam ser fabricadas usando uma impressora 3D.
A maioria das impressoras 3D atuais trabalha com plástico ou metal para criar objetos simples. Mas Michael McAlpine e seus colegas da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, desenvolveram uma impressora 3D que fabrica uma lente de contato de cinco camadas, incorporando os LEDs para criar uma tela.
A lente de contato é feita com múltiplas camadas de polímero, com os componentes eletrônicos incorporados entre elas: diodos emissores de luz (LEDs) em nanoescala, com a fiação feita com nanopartículas de prata e polímeros orgânicos.
A parte mais complicada, segundo McAlpine, foi selecionar os solventes químicos capazes de depositar adequadamente cada camada, deixando cada uma secar o suficiente para a próxima camada aderir.
Outro desafio foi o fato de que cada pessoa tem globos oculares únicos. Isto exige a fabricação de "lentes-telas" personalizadas, escaneando a lente constantemente durante a fabricação com duas câmeras, para assegurar que a forma final se encaixe precisamente no olho do usuário.
Só no laboratório
McAlpine, que já havia construído uma orelha biônica impressa em 3D capaz de ouvir rádio, afirma que a lente de contato não precisa ter apenas uma tela: os LEDs podem ser substituídos por sensores para detectar marcadores químicos de fadiga nos fluidos do olho, por exemplo.
Levar essas lentes para fora do laboratório, contudo, ainda exigirá um bocado de trabalho: a tensão de funcionamento dos nanoLEDs ainda é muito alta e os pontos quânticos com os quais eles são feitos são de seleneto de cádmio, um material tóxico com riscos para a saúde.
De qualquer forma, a equipe conseguiu demonstrar que, dispondo dos componentes mais adequados, é possível fabricar as lentes de contato de forma muito simples e barata.
Bibliografia:
3D Printed Quantum Dot Light-Emitting Diodes Yong Lin Kong, Ian A. Tamargo, Hyoungsoo Kim, Blake N. Johnson, Maneesh K. Gupta, Tae-Wook Koh, Huai-An Chin, Daniel A. Steingart, Barry P. Rand, Michael C. McAlpine Nano Letters Vol.: Article ASAP DOI: 10.1021/nl5033292
Em visita ao Brasil, crítico-sensação do capitalismo defendeu maior transparência sobre riqueza e renda dos brasileiros
Em setembro deste ano, pouco antes do primeiro turno das eleições, um episódio envolvendo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acendeu o alerta vermelho no Planalto: segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), levantamento publicado anualmente pelo órgão federal, a desigualdade no Brasil havia ficado estagnada em 2013.
Poucos dias depois, no entanto, o próprio IBGE admitiu um erro de cálculo e informou que, ao contrário do que havia anunciado anteriormente, o abismo entre ricos e pobres no Brasil caiu, acompanhando a tendência verificada nos últimos anos.
Mas para o economista francês Thomas Piketty, crítico sensação do capitalismo, é possível que nada tenha mudado ou até que esteja acontecendo justamente o contrário. Em visita ao Brasil, ele fez alusão a uma pesquisa recente de especialistas da UNB ─ que mostra que a desigualdade não só estagnou como era maior do que se imaginava ─ e pediu 'maior transparência' sobre os dados de imposto de renda no Brasil para que, de fato, seja possível compreender a evolução da disparidade social.
Piketty é autor do polêmico best-seller 'Capital no século XXI'. No livro, ele defende, a partir da análise de dados inéditos de 20 países, que a desigualdade de renda estaria voltando a aumentar no mundo após décadas de queda.
Para fundamentar sua tese, o economista francês usou dados anônimos obtidos a partir de declarações de Imposto de Renda (IR).
Piketty está no Brasil para promover a versão em português do livro e comentou sobre os dados brasileiros durante uma palestra para estudantes e professores da Faculdade de Economia e Administração da USP.
"É só você olhar os dados (sobre a concentração da renda) nos 10% mais ricos do Brasil e dos EUA para entender porque essa transparência (dos dados) é importante", disse Piketty na palestra.
"Se você considera essas estatísticas (da PNAD) o Brasil é menos desigual que os EUA, mas se olha os dados do imposto de renda usados pela equipe de (Marcelo) Medeiros (da UNB) o Brasil é mais desigual", disse o economista.
Segundo Piketty, nenhum dos dados "é perfeito", mas maior transparência na divulgação dessas estatísticas de renda e riqueza por parte das autoridades brasileiras "seria bom" para que os pesquisadores possam realmente compreender o que está acontecendo com a desigualdade entre ricos e pobres no Brasil.
O trabalho da UNB mencionado por ele foi publicado em outubro deste ano e é assinado por Marcelo Medeiros, Pedro Souza e Fábio Castro.
Pela primeira vez, o levantamento analisa dados da Receita Federal utilizando uma metodologia desenvolvida por Piketty em 2001 e conclui que os 5% mais ricos da população detinham 44% da renda do país em 2012 - não 35% como aponta a Pnad.
Além disso, a pesquisa diz que o coeficiente de desigualdade (Gini) teria permanecido praticamente estável de 2006 a 2012 - enquanto pela PNAD a taxa teria caído 3%.
"No que diz respeito (à renda) concentrada nos 10% mais ricos da população, quando olhamos os dados fiscais (do imposto de renda, usados por Medeiros) e os da pesquisa a domicílio (PNAD), o resultado muda totalmente", afirmou o francês.
Para Fernanda Estevan, professora da FEA que mediou o debate entre Piketty e dois economistas brasileiros, contradições como as apontadas por Piketty mostram que no Brasil o tema "merece ser revisitado".
Segundo Estevan, a Pnad, que se baseia em questionários aplicados em domicílios selecionados, apresenta vantagens, mas tem limitações importantes.
"Ela consegue incluir os trabalhadores informais, por exemplo, o que o imposto de renda não consegue", diz a professora.
"Por outro lado, pode ser que quem tem mais recursos reporte apenas sua fonte de renda principal, deixando de mencionar outros ganhos."
O Brasil está enfrentando o que pode ser o pior escândalo financeiro e político desde a chegada do Partido dos Trabalhadores (PT) ao poder em 2003 com Lula como presidente. A rede de corrupção política e empresarial – com ramificações de financiamento ilegal do partido governista – tecida em torno da gigante estatal Petrobras ameaça apequenar o famoso mensalão, que há oito anos trouxe à tona um sistema de compra de votos no Congresso e – mais uma vez – financiamento ilegal do PT.
A Petrobras não é uma estatal comum. “A Petrobras é o Brasil e o Brasil é a Petrobras”, gostava de repetir Lula. Sua sucessora, Dilma Rousseff, agora precisa combater em duas difíceis frentes. Em primeiro lugar, como ministra de Minas e Energia do Governo Lula, Dilma ordenou que Petrobras tivesse fornecedores nacionais. Uma medida perfeitamente coerente com o ideário do PT e com o objetivo de criar empregos e ativar a indústria nacional. Mas teve o efeito – inesperado, até prova em contrário – de ser utilizada para engordar uma trama de favores, subornos e comissões ilegais que envolveu pelo menos nove das maiores empresas do Brasil e, até o momento, 85 altos executivos.
O processo de impeachment exige aprovação de 2/3 do COngresso. Já a rejeição das contas impede a diplomação. A decisão fica com o Judiciário. Este é o golpe paraguaio.
Já entrou em operação o golpe sem impeachment, articulado pelo Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Antonio Dias Toffoli em conluio com seu colega Gilmar Mendes. O desfecho será daqui a algumas semanas.
As etapas do golpe são as seguintes:
1. Na quinta-feira passada, dia 13, encerrou o mandato do Ministro Henrique Neves no TSE. Os ministros podem ser reconduzidos uma vez ao cargo. Presidente do TSE, Toffoli encaminhou uma lista tríplice à presidente Dilma Rousseff. Toffoli esperava que Neves fosse reconduzido ao cargo (http://tinyurl.com/pxpzg5y).
2. Dilma estava fora do país e a recondução não foi automática. Descontente com a não nomeação, 14 horas depois do vencimento do mandato de Neves, Toffoli redistribuiu seus processos. Dentre milhares de processos, os dois principais - referentes às contas de campanha de Dilma - foram distribuídos para Gilmar Mendes. Foi o primeiro cheiro de golpe. Entre 7 juízes do TSE, a probabilidade dos dois principais processos de Neves caírem com Gilmar é de 2 para 100. Há todos os sinais de um arranjo montado por Toffoli.
3. O Ministério Público Eleitoral, através do Procurador Eugênio Aragão, pronunciou-se contrário à redistribuição. Aragão invocou o artigo 16, parágrafo 8o do Regimento Interno do TSE, que determina que, em caso de vacância do Ministro efetivo, o encaminhamento dos processos será para o Ministro substituto da mesma classe. O prazo final para a prestação de contas será em 25 de novembro, havendo tempo para a indicação do substituto - que poderá ser o próprio Neves. Logo, “carece a decisão ora impugnada do requisito de urgência”.
4. Gilmar alegou que já se passavam trinta dias do final do mandato de Neves. Na verdade, Toffoli redistribuiu os processos apenas 14 horas depois de vencer o mandato.
5. A reação de Gilmar foi determinar que sua assessoria examine as contas do TSE e informe as diligências já requeridas nas ações de prestação de contas. Tudo isso para dificultar o pedido de redistribuição feito por Aragão.
Com o poder de investigar as contas, Gilmar poderá se aferrar a qualquer detalhe para impugná-las. Impugnando-as, não haverá diplomação de Dilma no dia 18 de dezembro.
O golpe final - já planejado - consistirá em trabalhar um curioso conceito de Caixa 1. Gilmar alegará que algum financiamento oficial de campanha, isto é Caixa 1, tem alguma relação com os recursos denunciados pela Operação Lava Jato. Aproveitará o enorme alarido em torno da Operação para consumar o golpe.
Toffoli foi indicado para o cargo pelo ex-presidente Lula. Até o episódio atual, arriscava-se a passar para a história como um dos mais despreparados Ministros do STF.
Com a operação em curso, arrisca a entrar para a história de maneira mais depreciativa ainda. A história o colocará em uma galeria ao lado de notórios similares, como o Cabo Anselmo e Joaquim Silvério dos Reis.
Ontem, em jantar em homenagem ao presidente do STF, Ricardo Lewandowski, o ex-governador paulista Cláudio Lembo se dizia espantado com um discurso de Toffoli, durante o dia, no qual fizera elogios ao golpe de 64.
Se houver alguma ilegalidade na prestação de contas, que se cumpra a lei. A questão é que a operação armada por Toffoli e Gilmar está eivada de ilicitudes: é golpe.
Se não houver uma reação firme das cabeças legalistas do país, o golpe se consumará nas próximas semanas.