Atualizado:
25/9/2011 3:07
Ministro do Trabalho abriga cúpula do PDT e turbina central aliada com verba
No comando do rateio de recursos milionários do Fundo de Amparo
ao Trabalhador (FAT), o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, abrigou parte da
cúpula do seu partido, o PDT, na pasta e encontrou brecha para turbinar centrais
sindicais, impedidas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) de receber dinheiro
público por causa de irregularidades no passado. Só neste ano, entidades
vinculadas a centrais já receberam R$ 11 milhões.
O ministro mantém dez integrantes da Executiva do PDT em postos
de comando do ministério e um outro personagem da cúpula partidária na
Fundacentro, instituição ligada à pasta. O tesoureiro do partido, Marcelo
Panella, foi chefe de gabinete de Lupi até o início do mês passado, auge da
faxina ministerial, quando deixou o cargo a pretexto de cuidar de negócios
pessoais.
'Todos são filiados ao PDT, o que pesou, sim, para suas
nomeações', disse o ministro ao Estado, confirmando a lista de correligionários
que nomeou. 'Reitero que todos os seus cargos são de livre provimento',
completou. No jargão burocrático, isso significa que Lupi considera caber a ele
preencher os cargos da forma que entender melhor.
Panella e Lupi são amigos há 25 anos, segundo o próprio
ministro. Os dois chegaram a ser sócios no Rio de Janeiro, no Auto Posto São
Domingos e São Paulo, mas a falta de alvarás não permitiu o funcionamento do
negócio.
Sucessor de Leonel Brizola na presidência do PDT, Lupi chegou
ao bloco F da Esplanada dos Ministérios em 2007, após perder a disputa para
governar o Rio e ter apoiado a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Ele tirou
licença do comando do PDT para assumir o ministério, mas continuou mandando na
legenda, numa confusão de fronteiras entre o cargo no governo e a militância
partidária.
Loteamento. O critério político-partidário pesou na escolha de
alguns dos principais cargos do ministério. Além de Lupi, o secretário executivo
da pasta, Paulo Roberto Santos Pinto, também é integrante da Executiva Nacional.
Da mesma forma, comandam o partido quatro assessores diretos do ministro: o
secretário de Políticas para o Emprego, Carlo Roberto Simi, e a diretora de
Qualificação, Ana Paula da Silva.
Completam a lista dois coordenadores-gerais: o responsável por
Estudos, Anderson Brito Pereira, e Rafael Oliveira Galvão, que cuida de
empreendedorismo juvenil. A Fundacentro, instituição de pesquisa sobre segurança
do Trabalho, vinculada ao ministério, também é comandada por um membro da
Executiva do PDT, Eduardo de Azeredo Costa. Neste ano, a Fundacentro recebeu R$
45,7 milhões.
O Estado apurou que Panella tinha ascendência sobre os demais
pedetistas. A maioria dos secretários ia ao seu gabinete despachar. Isso
significa que a proximidade com Lupi se impunha à hierarquia do ministério.
Manobra. No ano em que assumiu o ministério, Lupi abriu caminho
para o repasse de verbas do FAT a centrais sindicais, por meio de convênios com
sindicatos ligados às centrais, proibidas pelo TCU de receber dinheiro público
por fraudes e irregularidades na prestação de contas. A justificativa foi 'a
necessidade de novos parceiros' para cuidar da intermediação de emprego nas
cidades de São Paulo e do Rio.
Com a medida adotada Lupi, a Força Sindical tomou a liderança
do repasse de verbas para agências de emprego. O convênio em curso com a
Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos soma R$ 46,4 milhões. A
confederação é comandada por Monica de Oliveira Lourenço Veloso, que também é
diretora da Força. A central sindical é presidida por Paulo Pereira da Silva
(SP), deputado federal pelo PDT e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo.
A brecha aberta em dezembro de 2007 também resultou na
contratação de entidade que atende pelo nome de Sindicato dos Oficiais
Alfaiates, Costureiras e Trabalhadores nas Indústrias de Confecção de Roupas e
de Chapéus de Senhoras do Rio de Janeiro. A entidade usou parte do convênio de
R$ 6 milhões para reformar e mobiliar sua sede, reativando um Centro de
Atendimento ao Trabalhador, no bairro de São Cristóvão.
O sindicato é filiado à União Geral dos Trabalhadores (UGT).
'Isso dá visibilidade às centrais', disse o deputado Roberto Santiago (PV-SP),
vice-presidente da UGT, que intermediou o convênio. 'Fiquei intercedendo junto
ao Lupi, deu trabalho', contou.
Lupi alegou que a escolha das entidades obedeceu a um 'edital
de chamada pública de parceria' com ampla divulgação no Diário
Oficial.
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