sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Casas Legislativas pautaram o Pacote da Blindagem nesta semana

 

Nossa curadoria de conteúdos semanais: artigos, reflexões, entrevistas e análises sobre a democracia e o trabalho da sociedade civil.
Casas Legislativas pautaram o Pacote da Blindagem nesta semana

Na quarta-feira (27) a Câmara dos Deputados pautou as PECs (Propostas de Emenda à Constituição) 333/2017 e 3/2021. As propostas, que também são informalmente conhecidas como “Pacote da Blindagem”, buscam ampliar as garantias legais dos parlamentares brasileiros diante das decisões jurídicas. Após horas de discussão, a votação dos documentos foi adiada por falta de acordo entre os deputados acerca do tema, os partidos PSD, PT, PDT, PCdoB e PSB se opuseram à votação das PECs.

A última versão do texto da PEC das Prerrogativas (3/2021), elaborada pela então deputada Margarete Coelho (PP-PI), estabelece entre outras coisas, que deputados e senadores só podem perder o mandato por decisão judicial, e em caso de prisão em flagrante por crime inafiançável devem permanecer sob custódia da própria Casa até que o plenário delibere. Além disso, não podem ser responsabilizados civil ou penalmente por opiniões, palavras e votos, respondendo apenas no campo ético-disciplinar.

A votação surge em um momento de intenso atrito entre o Legislativo e o Judiciário, que atingiu seu ápice na primeira semana de agosto quando parlamentares bolsonaristas  ocuparam as mesas das casas legislativas nacionais em um motim que buscava impor a aprovação da anistia para aqueles que participaram dos crimes contra a democracia no 8 de janeiro. 

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos - PB), negou que a PEC seja uma forma de retaliação à ação do ministro Flávio Dino de determinar que a Polícia Federal apure 964 planos de trabalho de emendas que não foram cadastrados corretamente no sistema oficial do governo. Em um evento dos jornais O Globo e Valor Econômico, o presidente da Câmara disse que o Pacote da Blindagem é "uma demanda que atende o espírito da Casa. É isso que temos conversado. Há, de vários partidos, um sentimento na Casa de que essa atividade parlamentar precisa — não vou dizer melhor protegida —, mas precisa ser melhor dimensionada do ponto de vista legal”.

O Pacto pela Democracia emitiu uma nota de repúdio ao “Pacote da Blindagem”, que representa um grande retrocesso para a democracia brasileira, uma vez que pode comprometer o necessário processo de responsabilização daqueles que atentaram contra as instituições nacionais. 

O texto, assinado por mais de 15 organizações da rede, afirma que “O fim do foro privilegiado desacompanhado de qualquer reforma no processo penal brasileiro representa um cenário perfeito para a impunidade. Investigações e processos se arrastarão por anos até que encontrem a prescrição”. A nota do Pacto foi citada no podcast O Assunto, apresentado pela jornalista Natuza Nery. 

Em evento particular, o ministro do STF, Luís Roberto Barroso, diz que “Não se anistia sem julgar”

Durante um evento particular em Cuiabá (MT), o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, afirmou que: “Não houve julgamento e nem houve condenação. A manifestação de colegas do Supremo sobre isso é por se tratar de uma questão jurídica, não se anistia sem julgar”. A declaração, confirmada pela assessoria do STF, foi interpretada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro como um possível indicativo de que a Corte não se oporia a uma eventual anistia após julgamentos.

No texto “Pela anistia, outra anistia”, publicado em coluna na Folha de S.Paulo, o jurista Conrado Hubner Mendes afirma que há distinção de classe dentro na legalidade. “Luiz Fux, Flávio Dino e Alexandre de Moraes mantiveram condenação de duas mulheres por furto de R$ 14 e de pedaço de carne. André Mendonça, Nunes Marques e Dias Toffoli negaram liberdade a homem que furtou produtos no valor de R$ 62. Dois exemplos recentes da rejeição do princípio da insignificância em ações de habeas corpus no STF. Crime sem violência, sem ameaça, sem prejuízo relevante. Só pobreza”.

Julgamento da trama golpista começará na próxima semana 

O julgamento do núcleo principal da trama golpista está marcado para o dia 2 de setembro, na próxima terça-feira. O ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 7 réus respondem a 5 crimes distintos. O processo será julgado pela 1ª Turma do Supremo e tem como relator do caso o ministro Alexandre de Moraes.

O processo de responsabilização dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro é decisivo também para o cenário eleitoral de 2026. A divulgação de áudios em que Bolsonaro descumpre a restrição ao uso do celular provocou movimentações no centrão, que reavalia seu apoio ao ex-presidente e a outras lideranças. Colunistas como Malu Gaspar e Maria Cristina Fernandes, da CBN Brasil, têm destacado como esse processo redefine alianças e influencia os rumos da política nacional.

O professor titular de ciência política da USP, José Álvaro Mosés, avalia que este julgamento é um marco histórico na história brasileira. Em um episódio da Rádio USP, Mosés afirmou que o que está em jogo é o rompimento dos princípios democráticos “A democracia requer um conjunto de regras e normas consolidadas em constituições que todos devem respeitar. Isso significa que quando há crimes contra bens comuns de uma sociedade, materiais e simbólicos, a lei precisa ser aplicada”.

Um artigo de Ricardo Brant, publicado no veículo PlatôBR, descreve detalhadamente o cronograma previsto para o julgamento e afirma que apenas um pedido de vista de um dos cinco ministros do colegiado pode mudar o roteiro. O pedido pode ser feito para análise pormenorizada do processo e suspende o julgamento por até 90 dias.

A expectativa pública acerca do julgamento também repercute no exterior. A matéria “Brazil offers America a lesson in democratic maturity” publicado pelo The Economist, compara o processo de responsabilização conduzido no Brasil e nos Estados Unidos após as invasões das sedes dos seus Poderes. O texto afirma que “Bolsonaro e seus associados provavelmente serão considerados culpados. Isso faz do Brasil um caso de teste de como os países se recuperam de uma febre populista”.

Código Eleitoral é aprovado na CCJ do Senado com retrocessos

Na última semana, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou o novo Código Eleitoral, após sucessivos adiamentos. Um dos temas mais debatidos foi a cota de 30% para candidaturas femininas, inserida no texto por meio de emenda da senadora Professora Dorinha. Felizmente, a medida foi aprovada, ainda que com brechas que preocupam organizações da sociedade civil e ainda podem ser revistas em plenário.

A pesquisadora Lara Mesquita analisou essas e outras preocupações em seu artigo publicado na Folha de S.Paulo. Segundo Mesquita “Ainda que o novo código tenha muitos méritos, e não nego que os tenha, não é por acaso que deputados e senadores reservem para a última hora a análise de projetos dessa magnitude. As votações apressadas desviam o foco dos pontos que os líderes partidários preferem que passem despercebidos”.

Site permite que cidadãos calculem o impacto da reforma do imposto de renda proposto pelo governo federal. O Instituto Lamparina, em parceria com o Made/FEA-USP, Sleeping Giants Brasil e Teia de Criadores, desenvolveu um site em que qualquer pessoa pode calcular o impacto no bolso gerado pela reforma do imposto de renda proposta pelo Governo Federal, se ela for aprovada. A intenção é dar concretude e popularizar ainda mais a proposta, fortalecendo a justiça tributária no Brasil. Para saber mais acesse: calculadoradajustica.com.br   

Lançamento da Plataforma do Respeito durante a XXV Jornada LGBTI+. A Aliança Nacional LGBTI+ irá lançar a Plataforma do Respeito, que acontecerá no dia 16 de setembro. O evento integra a programação da XXV Jornada LGBTI+, que este ano tem como tema “Fake News e LGBTI+: Desinformação” e será realizada entre os dias 16 e 18 de setembro, em Brasília (DF). Para se inscrever, acesse: https://forms.gle/7U4YYyUcHR4idQsEA 

Edição online do Congresso ABRAJI. Os conteúdos da edição online do 20º Congresso ABRAJI estarão disponíveis até o dia 31 de agosto. A inscrição para as atividades, que contam com a presença de nomes do jornalismo brasileiro e nomes internacionais, é gratuita. Para mais informações a respeito, acesse o link.
 

Pesquisa Assessoria Parlamentar Negra do Congresso Nacional.  No dia 4 de setembro, às 14h, na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF), acontecerá o lançamento de uma pesquisa sobre a Assessoria Parlamentar Negra do Congresso Nacional.  A pesquisa, feita pelo Legisla Brasil em parceria com o Mulheres Negras Decidem (MND), traz um mergulho profundo sobre as experiências de assessores negros nos bastidores do Congresso Nacional e apresenta recomendações para enfrentar o racismo institucional no Legislativo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário