15 de Janeiro de 2017
"Brasil deveria se abrir aos bancos estrangeiros"
Para derrubar os juros aos consumidores, é preciso muito mais que baixar a Selic, segundo Roberto Vertamatti, da Anefac
Por Márcio Juliboni
A euforia do governo e do mercado com a queda mais acentuada da Selic deve passar longe dos pobres mortais que precisam de crédito para financiar suas compras, seu imóvel ou seu carro. E o pior: estamos longe de vermos juros civilizados para os consumidores. “Acredito que não veremos condições de queda relevante dos juros ao consumidor pelos próximos cinco anos, pelo menos”, afirma Roberto Vertamatti, diretor-executivo da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).
Entenda por que, nesta entrevista a O Antagonista:
O Antagonista: Em 2012, quando a Selic atingiu 7,25%, o menor nível da história, os juros médios ao consumidor fecharam o ano em 89%. Nunca veremos juros civilizados no Brasil?
Roberto Vertamatti: Acredito que não veremos condições de queda relevante dos juros ao consumidor pelos próximos cinco anos, pelo menos. Há outros fatores que impedem a queda, como a dívida pública. O grande vilão da economia hoje é o governo em seu todo: os três poderes, nos três níveis – federal, estadual e municipal. Por mais difícil que seja, é preciso reformar a Previdência e as leis trabalhistas. Quando essas questões forem encaminhadas, a confiança voltará e o dinheiro para investimentos também.
O Antagonista: Mesmo assim, os bancos hoje tomam dinheiro a 13%, e emprestam a juros de até 400%.
Vertamatti: Sim, os juros ao consumidor, no Brasil, são assustadores. Mas a Selic é apenas um dos motivos. Primeiro, há pouca concorrência. Os seis maiores bancos concentram cerca de 90% do mercado de crédito. Segundo, o spread é composto por diversos itens. A Selic representa o custo de captação de dinheiro pelo banco. Há também os custos administrativos e operacionais, as perdas com inadimplência, o depósito compulsório junto ao BC... Outro item é a cunha fiscal que, no Brasil, é gigantesca: para cada operação financeira, há uma séries de impostos e contribuições, como o IOF. E só no fim entra o lucro dos bancos. Fizemos um estudo mostrando que, quando se desconta a inflação, a margem de lucro dos brasileiros é praticamente igual à dos americanos.
O Antagonista: Em 2012, na esteira da queda da Selic, Dilma forçou os bancos públicos a cortarem os juros, esperando que os privados fizessem o mesmo. É uma boa saída?
Vertamatti: O governo forçou muito a barra naquele momento. Ele forçou a Caixa e o Banco o Brasil a cortarem estupidamente os juros e o preço está sendo pago agora. A inadimplência é maior que a do mercado e a qualidade da carteira de crédito, pior. Os bancos privados simplesmente decidiram não entrar nessa. Foi muito forçado.
O Antagonista: Abrir o mercado para bancos estrangeiros ajudaria?
Vertamatti: Sou totalmente favorável. Precisamos trazer investimentos para o país e gerar empregos. Nossa poupança interna para investimentos é muito pequena. O que importa que, depois, teremos de remeter lucros e dividendos para a matriz? Isso é feito em todo o mundo. Hoje, não temos empregos, nem dinheiro para investir.
O Antagonista: O BC reluta em baixar o compulsório, porque teme uma enxurrada de crédito que pressione a inflação. Qual é a sua opinião?
Vertamatti: O compulsório no Brasil é muito elevado. Está ao redor de 55%. No Japão, é de 5% ou 6%. Nos EUA, cerca de 9%. Não tenho dúvidas de que é possível reduzir esse percentual. É claro que não chegaremos aos níveis desses países, mas é possível pensar em algo como 40%. Esse dinheiro que entraria no mercado só geraria inflação, se fosse para financiar o consumo. Mas é possível condicionar a liberação do compulsório a investimentos em projetos de longo prazo, como infraestrutura. O impacto sobre a inflação seria mínimo e os resultados, muito bons.
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