por Felipe Moura Brasil
Eis um resumo do que pesa hoje a favor e contra Michel Temer na Câmara dos Deputados na análise da admissibilidade da denúncia de Rodrigo Janot contra o presidente por corrupção passiva.
A favor:
1) Não há pressão das ruas.
2) O presidente tem a caneta na mão para oferecer vantagens (cargos, emendas, concessões nas reformas etc.) aos parlamentares em troca de votos, tendo recebido só na terça-feira, dentro da agenda oficial, pelo menos 27 deputados e sete senadores.
3) Pelo menos 12 dos 66 membros da Comissão de Constituição e Justiça são alvos de inquérito na Lava Jato e temem ser os próximos a cair.
4) A ala anti-Janot da CCJ conta, além dos investigados, com outros “críticos” das investigações e até da ideologia do procurador-geral, alinhado à esquerda em matéria de ensino nas escolas brasileiras sobre “diversidade de gênero e orientação sexual”.
5) Assessores de Temer dizem que o governo tem os 34 votos necessários de deputados para garantir um parecer contrário à denúncia na CCJ.
6) Dizem, também, que há outros 8 deputados passíveis de “convencimento” para alcançar a marca de 42 votos, ou seja: vantagem folgada, com margem de segurança.
7) No desespero, a tropa de choque do governo pode tentar substituir deputados na CCJ, como recomendou Jovair Arantes, e como já havia sido feito no caso de Major Olímpio.
8) Rodrigo Maia, em tese, é aliado do presidente, diferentemente de Eduardo Cunha no processo de impeachment de Dilma Rousseff.
9) Não há prova material de recebimento, por parte de Temer, de dinheiro da mala de R$ 500 mil de propina entregue pela JBS ao ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor do presidente.
10) Loures foi solto pelo ministro do STF Edson Fachin.
Contra:
1) A perícia da Polícia Federal avalizou o áudio da conversa comprometedora de Joesley Batista com Temer em encontro fora da agenda oficial no Palácio do Jaburu.
2) A aprovação de Temer nas pesquisas é de apenas 7%, de modo que deputados, de olho nas eleições de 2018, temem o desgaste de defender um presidente impopular.
3) Geddel Vieira Lima, ex-ministro e aliado de Temer, antecessor de Loures como intermediário do presidente e de Joesley foi preso pela Polícia Federal na segunda-feira.
4) A acusação contra Geddel por obstrução de justiça na tentativa de comprar o silêncio de Lúcio Funaro e Eduardo Cunha reforçou a gravidade de declarações de Temer no aúdio de Joesley, tais como: a) quando pergunta “O Eduardo também, né?” após Joesley dizer “Todo mês...”; b) quando diz que Joesley falar com Geddel poderia parecer obstrução de justiça; c) quando indica “É o Rodrigo” para substituir Geddel na intermediação, resolvendo o problema anterior.
5) Temer disse na gravação “Pode passar por meio dele, viu?” e, semanas depois, Loures foi flagrado correndo na rua de São Paulo com a mala de propina da JBS.
6) Aliado de Rodrigo Maia, Sérgio Zveiter, escolhido relator do pedido de denúncia, está longe de ser o relator dos sonhos do governo, apesar de também ser peemedebista.
7) Apesar de Temer ter acionado o ministro dos Esportes, Leonardo Picciani, para pressionar Zveiter, seu colega de PMDB do Rio de Janeiro, o relator declarou que fará uma análise independente, com “chance zero” de ceder a pressões.
8) Zveiter jantou na terça-feira na casa de Maia, que, embora tenha se irritado com o vazamento, aparece mais concretamente agora como alternativa de poder a Temer.
9) Segundo a Folha, “deputados próximos a Temer que, até então, mostravam otimismo disseram, em tom fúnebre, que 'agora acabou'.”
10) A tramitação da denúncia pode extrapolar o prazo, segundo o presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), o que contraria a pressa dos governistas para liquidar o tema antes do recesso parlamentar e prolonga o sangramento de Temer.
Eu, Felipe, sou a favor da admissibilidade da denúncia, cujo conjunto probatório merece ser discutido no STF, ainda que, também, por Gilmar Mendes.
Liquidá-la na Câmara é como trancar as provas na garagem do Jaburu.
felipemb@oantagonista.com
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